O período de isolamento social aumentou as tentativas de fraudes no sistema financeiro. Segundo os grandes bancos, além da maior quantidade de aplicativos falsos que surgiram nas lojas dos sistemas Android e Apple durante a quarentena, o número de fraudes por contato presencial, telefônico ou por canais digitais também cresceu nas instituições.
Segundo o diretor de segurança corporativa do Itaú Unibanco, Adriano Volpini, a intensificação do uso dos canais digitais tem gerado um maior desafio para os bancos e uma grande oportunidade para os fraudadores.
O movimento intensifica a chamada engenharia social: uma manipulação psicológica na qual o criminoso entra em contato direto com o cliente, o faz acreditar que se trata de um contato do banco, e o incita a passar informações confidenciais, a baixar algum aplicativo ou a realizar transações financeiras em seu nome, por exemplo.
“Isso se materializou de uma forma mais evidente agora, durante a pandemia. Os clientes em casa e diante de uma maior sensibilidade ao tema de isolamento social, estão mais aptos a receber e aceitar propostas de contato físico ou remoto”, disse Volpini.
De acordo com o superintendente-executivo de prevenção a fraude do Bradesco, Bruno Fonseca, mesmo os clientes que são nativos digitais –ou seja, que já entraram no banco pelos canais digitais– estão caindo em golpes.
“Esse é o principal desafio que vemos na convergência acelerada para o mundo digital. Infelizmente as fraudes que acontecem acabam sendo bastante seguras porque é o cliente que faz a pedido do fraudador, não há uma invasão de sistemas, por exemplo”, afirma.
Dentre os exemplos citados pelos executivos de fraudes bancárias que aumentaram durante a quarentena estão: o download de aplicativos falsos, por instrução de fraudadores, que deixam o aparelho do cliente vulnerável; a oferta de ajuda, na qual o fraudador pede dados pessoais e do cartão de crédito; e o contato telefônico ou via Whatsapp, no qual os fraudadores afirmam que o cliente precisa entregar o cartão e até mesmo se oferecem para buscá-lo.
Os executivos dos grandes bancos afirmam que abril foi o mês de maior número de aplicativos falsos nas lojas. O volume chegou a multiplicar 10 vezes no período, afirmaram.
Para o diretor de tecnologia do Banrisul, Jorge Krug, o maior desafio do sistema bancário é o de combater a engenharia social.
“Cabe a nós, bancos, combater de forma similar [a engenharia social], conversando com nossos clientes e trazendo-os para o nosso mundo. Talvez seja a parte mais difícil de ser feita, mas é necessário. Toda a parte de tecnologia já está muito bem implementada”, disse.
Os executivos afirmam, ainda, que há a necessidade de punição desses criminosos. Segundo Volpini, do Itaú, o sistema financeiro aguarda a provação do PL (projeto de lei) 2638, do deputado Marcelo Ramos (PL/AM), que dispõe da tipificação de furto mediante fraude eletrônica.
“[A aprovação desse PL] é uma necessidade, já que a incerteza da impunidade gera um incentivo e um impulso maior para que o crime aconteça. Seria uma conquista não só para o sistema financeiro, mas para a sociedade, já que quanto mais disciplinada forem as transações, mais todos se beneficiam”, afirmou o diretor do Itaú.