Setores divergem sobre volta do horário de verão

Fonte: Diário do Comércio
16/11/2022
Geral

Após quatro anos sem a ocorrência do horário brasileiro de verão, o assunto é uma das primeiras mudanças sugeridas pelo novo governo federal eleito já para 2023. Nas redes sociais, o tema esteve em debate na última semana, após o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter consultado a população para uma pesquisa opinativa. E mais de 2 milhões de brasileiros, sendo a maioria, votou a favor da possível volta do horário.

O horário de verão foi instituído no País em 1931, com a finalidade de aproveitar a luz solar no período mais quente do ano, e adotado de forma permanente a partir de 2008. 

O especialista em Engenharia Elétrica pela PUC Robson Piovesano explica que os impactos no setor elétrico provocados por conta do horário de verão são expansivos. “Por sermos um País continental, a influência ainda é muito grande. Acontece que a incidência solar por ser maior no verão, e conciliada com o horário em vigência, as pessoas, além de se organizarem para uma rotina com uma hora mais cedo, vão aproveitar mais dessa energia solar e dependerá menos de energia elétrica para algumas poucas necessidades, mas que fazem a diferença. Esse impacto pode variar de 0,5% até 5%, dependendo das regiões brasileiras“. 

Para verificar se há vantagens ou não com a volta do horário de verão, vale a pena primeiro entender os impactos do ponto de vista energético, inclusive para o setor industrial, conforme aponta o diretor de Comercialização da Enecel Energia, Álvaro Augusto. Segundo ele, do ponto de vista de consumo, em algumas regiões brasileiras era para existir um extra no horário de pico, entre 18 horas e 21 horas. Essas regiões ganharam então a chance de ter mais luminosidade no final da tarde, e postergando o acionamento das lâmpadas. 

Perfil do consumo

“O que acontece é que hoje mudou o perfil de consumo dos consumidores. Muita gente agora está com o ar condicionado, e então o novo vilão do consumo foi verificado no horário de pico elétrico entre 14 horas e 15 horas, quando um grande volume de ar condicionados estão ligados pelo País. Então, essa questão econômica, se a gente mexer uma hora do ponto de vista energético, não faz sentido mais”. 

Diante das desvantagens do horário de verão, o especialista da Enecel, que é uma das maiores empresas de gestão de contratos de energia elétrica do País, afirma que a primeira relação de dificuldade está na adaptação ao relógio biológico. “Um dos piores efeitos é a perda de produtividade humana. No caso do agronegócio, por exemplo, o gado é sensível às mudanças de horário nas fazendas. E isso pode inclusive afetar a produtividade nacional”, aponta.

Medida favorece comércio e serviços

Do ponto de vista econômico, Álvaro Augusto conta que o comércio acaba tendo uma condição vantajosa com o horário de verão, pois a medida deixa a noite mais longa, consequentemente ajudando as lojas, shoppings, bares e restaurantes a economizarem na fração de energia elétrica. 

Robson Piovesano enfatiza que outra vantagem do horário de verão contribui de certa forma na segurança dos principais corredores comerciais das cidades, assim como na redução de acidentes pelas rodovias estaduais e federais. “Obtendo esse tempo mais luminoso durante o dia, tarde e parte da noite, a sociedade não só terá benefícios em relação à economia na conta de luz, mas em aspectos que integram a rotina social e o funcionamento dos serviços de transporte, logística e segurança”, avalia.

A volta do horário de verão também pode impactar positivamente do ponto de vista ambiental, pois, segundo Álvaro Augusto, a maior demanda de consumo entre 14 horas e 15 horas pode ser favorecida pela distribuição de energias renováveis. 

“Por conta desse novo perfil do consumo que temos, as fontes renováveis como a energia solar e a energia eólica, que têm atuado nesses horários, de uma certa forma perene, acaba ajudando nessa condição de entendimento desses picos. Então, há uma questão de que essa condição acaba aliviando bem essa necessidade populacional.  Outro ponto importante, inclusive economicamente, é que essas usinas renováveis são bem mais baratas e estão vindo com muita força para a matriz, aliviando um pouco a geração hidráulica neste período”.

Estudo avalia que horário de verão não é vantajoso

O secretário-executivo da Câmara da Indústria de Energia, Petróleo e Gás da Fiemg, Sérgio Pataca, analisa que a adoção da hora adiantada na época mais quente do ano não resulta mais em economia de energia. “Há uma pesquisa que mostra que essa questão já não é mais entendida como eficiente, justamente pelo perfil de consumo nacional ter passado por mudanças”, diz.

A pesquisa do qual Pataca se refere é do Ministério de Minas e Energia (MME), na qual foram avaliados, de acordo com o estudo, os impactos do horário verão dos últimos anos em vários aspectos e esferas. Do ponto de vista geral, a manutenção do horário de verão, de acordo com autoridades do setor elétrico, é considerada uma questão totalmente cultural.

O especialista explica que o horário de verão não compreendeu o que se propôs – ou seja, entre redução de consumo e demanda – e esses fatores são apresentados no estudo. Desta forma, a popularização dos aparelhos de ar condicionado, destacados por Álvaro Augusto, foi reforçada pela pesquisa como uma das principais razões dessa mudança. No estudo, técnicos do MME avaliaram que a temperatura é o que mais impacta os hábitos do consumidor e não a incidência da luz durante o dia.

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