A expectativa de entrada em vigor do Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos criado pelo BC (Banco Central), animou o setor de comércio e serviços. O segmento prevê redução nos custos das operações, o que dará mais eficiência e competitividade às empresas.
Não é possível, contudo, saber ao certo quanto será economizado com taxas, já que os percentuais cobrados variam de acordo com o porte do estabelecimento e da instituição financeira escolhida.
Jorge Gonçalves Filho, vice-presidente e conselheiro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), afirma que a expectativa é alcançar uma economia considerável.
“A estimativa é que 30% das transações do comércio sejam na função débito, e considerando uma taxa média de 2% cobrada pelas operadoras, dá para ter uma ideia do montante que pode ser economizado”, afirma.
O varejo paulista contabilizou faturamento de cerca de R$ 740 bilhões no ano passado. Se 30% desse total foi com pagamento em débito com taxa média de 2%, o desembolso do setor só com as tarifas foi superior a R$ 4 bilhões.
Vale destacar que o processo de adaptação tanto dos lojistas como dos consumidores levará alguns anos para ser concluído. Por isso, a economia não será imediata e nem é possível saber quantos comerciantes e clientes vão aderir à nova sistemática.
O comerciante Antônio Alves Oliveira, 45, já faz as contas de quanto vai economizar se trocar os recebimentos em cartões pelo Pix.
“Hoje pago 2,2% pelas operações no débito, que são a maioria dos pagamentos. Com a redução dessa taxa, vou ter mais fôlego financeiro principalmente neste período de pandemia, em que estamos trabalhando com horário reduzido”, afirma Oliveira, que é proprietário do restaurante Naoko Sushi.
O comerciante comenta que, como a entrada dos recursos na conta não é imediata com o pagamento em cartão, muitas vezes é obrigado a usar o limite do cheque especial, mesmo tendo valores para receber.
“Essa nova modalidade de transferências vai ajudar muito no fluxo de caixa do comércio, que hoje, mesmo com vendas realizadas, leva alguns dias para ter o recurso na conta”, Kelly Carvalho, assessora econômica da FecomércioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo)
Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) comenta que vai reduzir ainda as despesas com emissão de DOC, TED e boletos.
“A nova sistemática diminui os custos operacionais, aumenta o controle dos recebimentos, dará mais rapidez na fila do caixa, diminui a necessidade de troco, traz mais segurança para o comércio, que não vai ter que manipular dinheiro, e tudo isso de maneira totalmente segura”, diz Solimeo.
Cabe destacar que, com o boleto bancário, por exemplo, há o risco de o consumidor desistir da compra. “O sistema beneficiará, principalmente, o pequeno varejo, que terá os recursos disponíveis de forma imediata, caindo a necessidade de crédito. O fluxo de caixa se torna mais saudável”, afirma Kelly.
O representante do IDV cita ainda que é mais fácil identificar os valores porque os créditos estão todos unificados em um extrato, facilitando a contabilização.
Para Felipe Negrão, diretor executivo do GPA (Grupo Pão de Açúcar), o novo sistema de pagamentos instantâneos, gratuito à pessoa física, promove inclusão com rapidez, segurança e baixo custo para as empresas, gerando maior competição entre os provedores de serviços nos processos de meios de pagamentos hoje existentes.
“Haverá ganhos tanto para os consumidores que vão às nossas lojas ou compram nos nossos canais digitais, quanto para nós”, comenta.
Negrão diz que o grupo já está se preparando para a aceitação do Pix nas lojas Extra, Assaí e Pão de Açúcar. “Trata-se um de meio democrático, que levará comodidade e conveniência aos clientes, com a facilidade de pagar sem a necessidade de se ter contas bancárias ou cartões físicos, em todos os momentos do dia e dias da semana.”
A bancarização é outra vantagem do novo sistema. A estimativa é que cerca de 45 milhões de pessoas no Brasil não tenham conta em banco, no entanto, o número de smartphones é superior a uma unidade por brasileiro, com aproximadamente 230 milhões de celulares ativos.
“Basta ter um smartphone para fazer a sua compra, com pagamento imediato, sem a necessidade de portar dinheiro”, diz o representante do IDV.
Há ainda a previsão de que no próximo ano será possível fazer saque no próprio varejo, o que trará mais fluxo para os estabelecimentos comerciais.
VEJA AS PRINCIPAIS VANTAGENS LISTADAS PELOS LOJISTAS
Disponibilidade plena de recursos
Os valores serão transacionados em tempo real todos os dias da semana, sem restrição de horário
Mais barato e eficiente
Haverá tarifas menores do que as cobradas hoje pelas instituições financeiras, e com a vantagem de não ter de esperar pela entrada dos recursos
Foco na experiência do consumidor
O Pix é focado no usuário, melhorando a dinâmica de pagamentos tanto sob a ótica do pagador como pela do recebedor
Não há limite diário para ser movimentado
Outras formas de pagamento, como transferências DOC, têm limitações de valores
Inclusão financeira
É um instrumento que pretende atender a todos os tipos de pagamentos ou transferências, envolvendo empresas, pessoas e o governo, além de permitir a inclusão financeira de quem não dispõe de conta bancária ou de cartão de crédito
Aumento da concorrência
Cerca de 980 instituições de várias naturezas estão em processo de adesão ao Pix. Isso reduzirá a concentração bancária e aumentará a concorrência
Redução de fraudes
Diversos controles vêm sendo implementados para garantir alto nível de segurança
Possibilidade de saques nas lojas
Os usuários do PIX poderão fazer saques nos estabelecimentos. A medida proporcionará o reúso do dinheiro no varejo e mais clientes, aumentando o potencial para atrair novos negócios. Há cidades que não têm caixas eletrônicos e o Pix pode ajudar nesse sentido, com a participação dos comércios locais
Impactos positivos para o comércio eletrônico
O índice de abandono no carrinho de compra pode ser reduzido, aumentando as vendas do setor