De repente, uma notificação surge no celular. A mensagem é de uma amiga empresária pedindo ajuda. Precisa fazer um depósito urgente para um fornecedor. Foi a partir desse relato de um contato que a personal chef Carolina dos Wanis, de 40 anos, descobriu ter sido vítima de um golpe.
— Usaram uma foto minha publicada no perfil profissional e mandaram mensagens, dizendo que eu precisava pagar um fornecedor — conta.
Não houve prejuízos financeiros, mas a dor de cabeça foi grande. Ela precisou avisar a cada cliente que foi vítima de um golpe, porque eles estavam recebendo cobranças indevidas de número de telefone que parecia ser dela.
Na última quarta-feira, policiais dos estados de São Paulo, Pará e Goiás prenderam os chefes de uma quadrilha que clonava contas de aplicativos de mensagens para aplicar golpes como o sofrido por Wanis. Eles compravam chips de celular e, usando a foto da vítima, criavam perfis falsos.
Depois, contatavam os amigos e parentes dizendo ter trocado de número e pediam ajuda com depósitos bancários. Segundo as investigações, o dinheiro ia para contas que eram alugadas pelos criminosos.
De falsas mensagens em aplicativos até a retirada de cartão por um fraudador que se passa por enviado do banco, os golpes bancários se tornaram mais frequentes durante a pandemia. De abril a junho deste ano, foram registradas 8.205 mil reclamações contra falta de sigilo e segurança de operações bancárias, segundo dados do Banco Central (BC). No mesmo período do ano passado, foram 4.357 queixas, um aumento de 88,3%.
Risco dos sites falsos
Para Daniel Dias, professor da FGV Direito Rio, o número de fraudes acompanha o crescimento da abertura de contas digitais e o maior volume de transações bancárias pela internet:
— Dentre esses novos usuários, que antes da pandemia resistiam ao uso ou não tinham acesso às ferramentas bancárias digitais, há uma número considerável de pessoas com menos intimidade e prática com o uso dessas ferramentas — diz.
Levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também mostra que as instituições bancárias registraram aumento de 80% nas tentativas de ataques de phishing — quando o fraudador usa links e perfis falsos para roubar dados e informações das vítimas. Uma das estratégias dessa “pescaria digital” se baseia num site falso que simula a página de um e-commerce renomado.
Foi exatamente o que aconteceu com a consultora de vendas Thaynara Santos, de 30 anos, na sua primeira compra on-line. Ao pesquisar preços de um smartphone, ela se deparou com uma oferta atrativa de um site, sem perceber se tratava da imitação de uma grande varejista.
Na hora, ela pagou o boleto pelo aplicativo do banco. Só descobriu a fraude ao baixar o aplicativo da loja verdadeira para acompanhar o pedido e não encontrar nenhum registro da compra.
— O site parecia seguro porque usava a logo da empresa, apresentava o endereço e o CNPJ verdadeiro e tinha a mesma identidade visual. Cheguei até a receber um e-mail após a compra com um falso código de rastreio. Perdi R$ 400 reais. Fiquei tão arrasada que decidi ir até uma loja física para não correr riscos novamente. Não me sinto mais segura de realizar uma compra virtual — lamenta.
O advogado do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Marchetti, orienta que, em casos de fraude, o primeiro passo é registrar um boletim de ocorrência.
— Em seguida, deve ser enviado o comunicado ao banco a fim de suspender o pagamento. O consumidor também deve denunciar ao Procon para serem tomadas medidas administrativas e de investigação. Caso a notificação para os responsáveis pelo falso site não resolva, pode-se ingressar com uma ação judicial para pedir o estorno do valor.
Segundo a Febraban, os bancos investem cerca de R$ 2 bilhões por ano em sistemas de tecnologia da informação destinados à segurança. Para Dias, o consumidor também precisa investir em proteção.
— Para realizar uma transação on-line, o consumidor deve ter um software de proteção contra malware e antivírus instalado em seu celular ou computador Esta é uma proteção primária e muito importante — diz.
Como escapar de armadilhas
WhatsApp: Para evitar que o aplicativo seja clonado, habilite a opção “verificação em duas etapas” nas configurações da conta. Cadastre uma senha que será solicitada periodicamente pelo app.
Pescaria digital: Sempre verifique se o endereço da página de internet é o correto. Nunca acesse links ou anexos de e-mails suspeitos. Prefira sites conhecidos e nunca use computadores públicos para compras.
Falso motoboy: Nenhum banco pede o cartão de volta ou envia uma portador para retirar o cartão na casa dos clientes. Na dúvida, desligue o telefone e ligue para o banco, de outro aparelho, para verificar se há algum problema com a conta.
Falso funcionário: Verifique a origem das ligações e mensagens recebidas. O banco nunca liga pedindo senha nem o número do cartão do cliente.