Os micro, pequenos e médios negócios tendem a priorizar o Pix a outros meios de pagamentos, afirmam representantes do setor.
Apesar de o movimento ainda depender da adoção do novo sistema entre os consumidores, a expectativa é que a redução de custos e o dinheiro em caixa mais rápido impulsionem o uso do Pix pelas empresas.
O novo sistema do Banco Central começa a valer na próxima segunda-feira (16) e permitirá mandar dinheiro para outra pessoa ou empresa de maneira instantânea e independente de qual seja a instituição de recebimento.
As transações poderão ser feitas 24 horas por dia, nos sete dias da semana, incluindo feriados, e acontecerão de maneira gratuita para pessoas físicas e microempreendedores individuais.
“Os bancos vão ter o direito de fazer a cobrança, principalmente no caso de empresas que fazem mais de 30 transações por mês. Ainda assim, a expectativa é que as taxas sejam menores. Isso vai trazer uma redução significativa de custos e agilizar o pagamento das compras ao vendedor”, afirmou o gerente executivo da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), Daniel Sakamoto.
Entre os cinco maiores bancos, Banco do Brasil e Itaú já afirmaram que darão três meses de isenção na cobrança das transações por Pix. Bradesco, Caixa e Santander não responderam até a conclusão desta reportagem.
Depois desses três meses, no entanto, a tendência é que as tarifas cobradas variem conforme o montante das operações e dependam do perfil do cliente, do seu segmento e do relacionamento com o banco.
Em operações de cartão de crédito e débito os lojistas normalmente demoram de 2 a 30 dias para receber, além de pagarem taxas que começam a partir de 1,5% sobre o valor da compra, a depender da modalidade escolhida pelo consumidor.
Segundo Sakamoto, o custo para o lojista com tarifas bancárias e taxas de cartões costuma ser, em média, 20% do total de despesas da empresa.
Um levantamento feito pela Intuit QuickBooks, fintech desenvolvedora de software, aponta que 40% dos donos de micro, pequenos e médios negócios no Brasil são entusiastas do novo sistema.
Desse total, 40% afirmam serem atraídos pela possibilidade de pagar menos ou ficar isentos de tarifas, enquanto 41% também dizem ver com bons olhos a possibilidade de transferir ou receber valor 24 horas por dia, sete dias por semana.
A pesquisa foi feita com 1.190 pessoas, de 9 a 19 de outubro, entre MEIs (microempreendedores individuais), micro, pequenos e médios negócios dos setores de comércio, serviços, indústria, agronegócio e construção civil.
“Os empreendedores normalmente se adaptam rapidamente ao que é bom pra ele e eu acredito que o Pix tem potencial para ser um substituto massivo. Mas toda tecnologia tem um período natural de espera para a adoção. Não dá para esperar que as pessoas consumam sem medo, é gradual”, afirmou Davi Viana, diretor de vendas da fintech.
As mudanças nos sistemas, no entanto, ainda são insipientes. Segundo o presidente da Abrasel São Paulo (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), Joaquim Saraiva, os empresários ainda estão sendo cautelosos em migrar os seus sistemas.
No caso de bares e restaurantes, o QR Code para o pagamento de clientes via Pix ficaria disponível na chamada pré-conta –a nota que vai para conferência do cliente, na mesa.
“Os softwares ainda estão sendo adaptados, mas as expectativas são muito boas. Sem dúvida os restaurantes darão preferência ao Pix, por conta dos benefícios. Mas muito ainda vai depender do cliente”, disse.
Os últimos dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) apontam que o uso dos cartões de débito somou R$ 198,4 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 21,6% ante igual período de 2019.
Os cartões de crédito registraram R$ 295,3 bilhões, alta de 1,1%, enquanto os cartões pré-pagos somaram R$ 12,6 bilhões, mais do que o dobro na mesma comparação (114,9%).
Para Sakamoto, da CNDL, há expectativa de que a maior concorrência nos meios de pagamentos trazidos pelo Pix possa pressionar por taxas mais competitivas nas operadoras de cartão.
“A grande sacada do Pix é que além dos benefícios de custos menores e pagamento imediato, é uma modalidade que também vai fazer com que os demais meios se adaptem. E como ainda temos uma cultura muito forte de cartão, há expectativa de que os preços e prazos das operadoras fiquem pressionados”, afirmou o executivo.
Pedro Coutinho, presidente da Abecs e da Getnet, afirma que o parque de 11 milhões de maquininhas no país já está preparado para o Pix. Ele diz, ainda, que a expectativa é que o novo sistema aumente a bancarização e, consequentemente, o uso do cartão de crédito –modalidade que ainda não estará disponível pelo Pix.
“São coisas bem diferentes. Se a bancarização e a digitalização seguirem crescendo, o volume de transações de crédito devem aumentar. As adquirentes já fizeram um bom trabalho na redução de preços, equiparando-se aos níveis internacionais”, disse.