Há pouco mais de 10 anos, a convergência às normas internacionais de contabilidade e o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas foram as grandes preocupações da classe contábil. Passado o turbilhão gerado por toda e qualquer mudanças, a tendência é que o contador faça as pazes com esses pontos e tire proveito delas.
Com a tecnologia crescendo e o ramo empresarial sendo cada vez mais decisivo economicamente, o exercício contábil passou a ter uma visão mais disruptiva com o status quo da contabilidade: a mudança tecnológica está relacionada com a mudança comportamental. Os conceitos de inovação trouxeram um novo campo de atuação para os contadores, que passaram a atuar com maior força nas áreas de gestão, minimizando danos de cunho patrimonial e propondo soluções para crescer.
“Temos que entender, de uma vez por todas, que a tecnologia é uma aliada do profissional da contabilidade”, aponta a presidente do Conselho Regional de Contabilidade, Ana Tércia, se opondo a ideia de inimizade entre os profissionais contábeis e as novidades tecnológicas.
Entre as novidades da profissão, a participação efetiva da tecnologia foi, e está sendo, um grande marco para a classe. Essas novas responsabilidades são trazidas à medida em que os instrumentos disponíveis para execução dos trabalhos vai se otimizando: “quando cria-se maneiras mais eficientes de se apurar valores, de calcular, de desenvolver indicadores, por exemplo, o exercício contábil vai naturalmente se aperfeiçoando e acompanhando essas mudanças”, avalia Ana. A transição do processo artesanal de produção de um livro contábil, para a digitalização, modifica, não somente o contador como profissional, mas todos inseridos nesse contexto.
Pelo fato de a contabilidade ser um segmento que tem como objeto de estudo um volume muito grande de dados e de números, os facilitadores no processamento de dados são um marco para a profissão. Desde a tecnologia para a elaboração de uma nota fiscal até o mecanismo atual, com a nota fiscal eletrônica, os processos e etapas que eram característicos para os contadores, começaram a sofrer com uma metamorfose tecnológica.
Esse processo de ligação com a tecnologia resultou no Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), que em 2007 teve seu início, sendo parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal. Na prática, o Sped tornou-se um divisor de águas para o que se fazia na contabilidade e o que se faz atualmente. Sendo atualizado constantemente em novos blocos, o Sped promete acumular tudo que se precisa para fins de informação para processar uma contabilidade. Dessa maneira, o sistema de informação pode acumular muito conteúdo, forçando os contadores a se aliarem ao sistema para aperfeiçoar seus conhecimentos. Para Ana, não existirá vida contábil fora do Sped.
A inserção dos dispositivos tecnológicos e de outros sistemas mais complexos, transformou não só a forma como a profissão funciona, mas também como será pensada no futuro. Além disso, modificou a forma que o contador, e todos os ramos de exercício dentro desse conceito, age e é visto pela sociedade.
“A profissão de contador está deixando de ser vista apenas como alguém que produz números e levantamentos, para alguém pode interpretá-los e conduzir a empresa para o sucesso”, projeta a coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação em Ciências Contábeis da São Judas Tadeu, Patrícia Coelho. Essa nova visão sobre um contador reflete-se em uma mudança no perfil do profissional de contabilidade. Patrícia fez mestrado em Engenharia de Produção, devido ao mercado de análises ser, na época, mais segmentado aos engenheiros.
O conhecimento científico gerado através da utilização das novas tecnologias alimenta o mercado com uma profissionalização mais ativa e mais precisa. Dessa forma, o contador passa a trabalhar mais com a interpretação dos valores do que simplesmente o processamento dos números. “O profissional de contabilidade passa a prever cenários e ofertar soluções prévias, mudando a forma engessada que a imagem da profissão carrega”, reflete Ana.
Em 22 de setembro de 1945, o então presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-lei nº 7.988. O documento oficializou a criação do curso de Ciências Contábeis no País, o qual teve seu berço na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O dia, que marcaria a história e seria eternizado pela classe, é comemorado hoje como Dia do Contador.
A profissão, ao longo de sua existência, passou por transformações que acompanharam os avanços os quais a sociedade também experimentou. Essas variações, tanto em dimensões micro – voltadas ao exercer da profissão -, quanto macro – em relação à categoria – fizeram o que a Contabilidade é hoje em dia.
No início da organização da profissão como uma classe trabalhista, a formulação do modelo de conselhos, vigente hoje, pretendia impulsionar a regulamentação dos profissionais das Ciências Contábeis. Quando esse modelo tornou-se realidade, há cerca de 71 anos, o objetivo de fortalecer a profissão, de forma conjunta e estruturada, foi assumido pelos conselhos, tantos em âmbito estadual quanto federal.
“Desde que o ser humano passou a ter a necessidade de obter o controle sobre o patrimônio, o ofício de contador foi e, ainda está, transformando-se”, afirma Ana Tércia Rodrigues, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS). Através do tempo, os contadores passaram por diversas outras mudanças, como a convergência às normas contábeis internacionais, por meio do International Financial Reporting Standard (IFRS), e a chegada de novos aparatos tecnológicos que revolucionaram o exercício contábil.