O Paraná é o quarto estado com maior índice de formalização de empresas no País: 39% do total. Os dados são de um estudo do Sebrae, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE). Embora alto em relação a outras regiões, o número paranaense ainda pode evoluir, conforme avalia o gerente de Ambiente e Negócios Empresariais do Sebrae/PR, Cesar Rissete. “Em função do dinamismo do nosso agronegócio e dos serviços, temos um desempenho melhor do que outros estados. Mas há um espaço significativo para crescer: são mais de 1 milhão de pessoas que trabalham sem CNPJ ou por conta própria, segundo os dados da PNAD”, analisa.
Rissete observa que é expressivo o número de pessoas ainda na informalidade, o que abre uma oportunidade de aprofundar políticas públicas de apoio às micro e pequenas empresas, não só para que se preparem para a formalização, mas para se manter vivas. “Do total, 40% das empresas brasileiras ainda não passam do quinto ano de vida”, afirma Rissete.
Uma curiosidade do levantamento é que a agropecuária é a atividade nacional em que a informalidade mais pesa, abrangendo 92% dos negócios no segmento. No Paraná, entretanto, o campo, que é uma das bases da economia estadual, tem ajudado a criar mais negócios formais. “Aqui, temos mais agroindústrias e um movimento forte das cooperativas. É uma condição competitiva diferente. As cooperativas têm investido forte na industrialização, num dos setores em que a gente mais viu anúncios de investimento. E isso gera toda uma base de serviços, acaba puxando um conjunto fornecedores na cadeia, estimulando a formalização de empresas”, pontua Rissete.
No Brasil, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, o empreendedorismo ainda é profundamente marcado pela informalidade. Os dados do IBGE mostram que, dos 28,4 milhões de donos de negócio no País, cerca de 1/3 não possui CNPJ, característica que é determinada por aspectos estruturais, em especial a escolaridade. A formalização de empresas brasileiras cresce conforme aumenta a escolaridade. Empreendedores que têm curso superior apresentam índices de formalização quase 20 vezes acima em relação àqueles sem instrução (57% x 3%).
O estudo do Sebrae chama atenção para um outro dado extremamente relevante, que é a disparidade quanto à raça dos empreendedores. Donos de negócio brancos têm o dobro da formalização dos negros (40% x 19%). A análise feita pelo Sebrae revelou que a formalização de empresas no Brasil (existência do CNPJ) tem um perfil bastante específico, sendo maior entre os indivíduos que são empregadores, brancos, com nível superior e estão localizados nas regiões Sul e Sudeste.
Ainda segundo o estudo, a maior concentração de empresas formais pode ser encontrada entre os que trabalham mais de 49 horas por semana no próprio negócio, ganham mais que 5 salários mínimos, estão há mais de 2 anos na atividade atual, possuem mais sócios e mais empregados e cujos empreendimentos estão no comércio (principalmente em local fixo). Em contrapartida, a informalidade é maior entre os indivíduos que trabalham por conta própria, negros e com baixa escolaridade. Eles trabalham poucas horas por semana no negócio, têm baixo rendimento e atuam sem sócios e sem empregados.
Também apresentam alto nível de informalidade os empreendedores que estão no máximo há 1 mês na ocupação atual, trabalham em “área ou via pública” (ambulantes e camelôs), cujos empreendimentos estão, principalmente, no setor da agropecuária ou da construção e que estão localizados nas regiões Norte ou Nordeste. Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, o estudo comprova que apesar dos diversos avanços conquistados no Brasil nas últimas décadas – como a criação da figura do MEI (que completa 10 anos em julho), a aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e, recentemente, a Lei da Liberdade Econômica – abrir um negócio formal no País continua sendo um exercício de coragem e perseverança.
“No momento em que o Brasil enfrenta o drama do desemprego, com quase 13 milhões de pessoas sem trabalho, o empreendedorismo se torna uma alternativa concreta. Mas, para isso, precisamos assegurar igualdade de acesso ao mercado formal, a todos que se lançam no projeto de formalização. Isso passa pela qualificação dos empreendedores e por políticas públicas que alcancem esse universo de pessoas que estão hoje à margem da economia”, conclui.