A pandemia da Covid-19 destruiu a produção industrial do Brasil no mês de abril, o primeiro que começou e terminou com medidas de isolamento social decretadas em todo o país.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a queda de 18,8% na comparação com março –que já havia caído 9,1%– é a pior da série histórica, que vem desde 2002.
Na comparação com abril do ano passado, os efeitos são ainda mais sentidos, com recuo de 27,2%. É o sexto resultado negativo nessa base de análise.
A projeção da Bloomberg era de 28,3% de retração com relação a março de 2020 e 36,1% de recuo na comparação com abril do ano passado.
O registro negativo divulgado nesta quarta-feira (3) pelo IBGE superou a queda de 11% de maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros. Porém, aquela produção foi reposta no mês seguinte, algo que não deverá ser visto agora, já que as medidas de isolamento social continuaram em maio.
Segundo o gerente da pesquisa, André Macedo, o resultado de abril decorre claramente das medidas de distanciamento social.
“Tivemos um número maior de paralisações das várias unidades produtivas, em diversos segmentos industriais, por conta da pandemia. Março já tinha apresentado resultado negativo. Agora, em abril, vemos um espalhamento, com quedas de magnitudes históricas”, disse Macedo.
A queda foi generalizada. Atingiu todas as categorias da pesquisa e 22 dos 26 ramos pesquisados.
A principal influência negativa veio do setor automotivo. Em abril, 64 das 65 fábricas de automóveis no Brasil suspenderam suas operações no Brasil.
O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias registrou queda de 88,5%, intensificando o recuo observado no mês anterior (-28%). Foi a queda mais intensa desde o início da série histórica.
A interrupção da produção de veículos automotores impactou outros segmentos industriais, que também caíram em abril, como metalurgia (-28,8%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e máquinas e equipamentos (-30,8%).
Outros recuos relevantes no mês vieram de atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%), pela queda expressiva na quantidade de carros circulando nas ruas, e bebidas (-37,6%), outro setor impactado pelo distanciamento social, já que bares e restaurantes foram fechados pela pandemia.
Por outro lado, também por conta das medidas restritivas à circulação, que deixaram as famílias em casa, atividades de consumo essenciais cresceram em abril, como produtos alimentícios (3,3%), farmoquímicos e farmacêuticos (6,6%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (1,3%).
“Embora o impacto positivo dos alimentos tenha vindo, principalmente, da maior produção do açúcar, observamos aumentos também na produção de outros gêneros alimentícios necessários para as famílias, como leite em pó, massas, carnes e arroz”, analisou o gerente da pesquisa do IBGE.
O primeiro óbito conhecido de Covid-19 no país ocorreu no dia 17 de março. A partir daí, com o avanço da doença, o país promoveu o isolamento social como forma de combater a pandemia. Em abril, os efeitos econômicos começaram a ser sentidos com mais intensidade, já que as medidas restritivas duraram do começo ao fim do mês.
Diante desse cenário, a Covid-19 intensificou o aumento do desemprego no Brasil, que chegou a 12,6% no trimestre encerrado em abril, e contribuiu para que 4,9 milhões de posto de trabalho fossem perdidos. A população ocupada teve uma queda recorde de 5,2% na comparação com o trimestre anterior.