“O contador está no centro do que existe de mais importante no mundo, que é a informação”. Foi com essa afirmação que Ladmir Carvalho, CEO da Alterdata, abriu a live “O empreendedor contábil diante dos novos cenários”, realizada pelo SESCAP-PR nesta semana. O evento on-line reuniu empresários contábeis e profissionais de outras áreas para compartilhar dicas de gestão e liderança adotadas por uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil.
O CEO ressaltou o papel de destaque que o contador ocupa em um cenário volátil e cheio de transformações. De acordo com ele, estar no centro da informação, sendo abastecido de todas as formas, faz dos profissionais da contabilidade grande geradores de valor. “O contador que se aprimorou, que se especializou em fazer mais do que apenas questões técnicas, está bem num momento como este. Mas aqueles que não lêem livros, não se atualizam, não assistem a lives que têm conteúdo, têm problemas sérios, pois o ciclo de mudanças está muito mais rápido”, declarou.
Era de incertezas
“Antigamente, vivíamos uma era em que as pessoas mais velhas eram a referência. A experiência tinha influência. Hoje, buscamos ajuda dos mais jovens que são quem nos ensina a ganhar dinheiro. Essa é a geração em que os mais novos estão fazendo coisas diferentes. Isso muda o Mindset de todas as profissões e faz com que tenhamos grandes reflexões”, aponta.
E, para sair vivo disso tudo? O empresário cita a atualização. “O maior problema do profissional que não estuda e se atualiza é que ele não sabe que não sabe. E o que vai fazer diferença para frente não é mais o conhecimento técnico. São as habilidades genéricas. A pessoa precisa saber liderar, ter empatia, credibilidade, motivar times, mover exércitos”, definiu.
Efeito Danning Kruger
E, segundo ele, o que acaba existindo muitas vezes é o chamado efeito Danning Kruger, fenômeno que leva indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acharem que sabem mais que outras pessoas mais bem preparadas. É a comparação entre o excesso de confiança e o conhecimento. “É preciso focar no processo de melhoria incremental, de evolução contínua. É preciso investir em métricas para acompanhar seu time. É preciso se interessar por marketing digital, para criar mais credibilidade ao saber o que não se sabe. Agora o jogo tem outra dinâmica”, indica Carvalho.
Os pilares da sobrevivência
O presidente do SESCAP-PR e empresário contábil, Alceu Dal Bosco, comentou sobre essa dinâmica necessária às empresas em pouco tempo. “A gente percebeu que as decisões que talvez fossem tomadas em anos, tiveram que ser tomadas em 10 dias. E o grande desafio é esse: como fazer com que as equipes se mantenham motivadas, mesmo em meio à crise?”, questionou.
Com a chegada de uma pandemia, o mundo precisou incorporar um novo nível de aprendizado, como indica Carvalho. E, para ilustrar essa curva de forma exponencial, compartilhou o caso da sua própria companhia. A Alterdata possui 1800 funcionários, o que faz dela a 5ª maior empresa de tecnologia do Brasil e a maior da área contábil e, em virtude do isolamento social, precisou colocar seus colaboradores em trabalho remoto em quatro dias. “Foi uma operação de guerra. Porque não é colocar o funcionário simplesmente para trabalhar em casa. Na prática, descobrimos que alguns moravam no sítio e lá não tem internet. Vimos que alguns eram casados e em casa só havia um computador. Precisamos solucionar todas essas questões e tornar o processo operacional”, contou Carvalho.
E para que o processo astronômico fosse possível, alguns procedimentos já haviam sido preparados antes mesmo da possibilidade de uma pandemia. “A estrutura de telefonia foi levada para a casa das pessoas e, com seus headphones, os colaboradores puderam continuar atendendo de casa. Mas isso foi possível porque a estrutura estava pronta”, revelou o empresário.
O segundo pilar foi blindar o caixa da companhia. “Todos entraram no mesmo deserto e quem trouxe mais água vai sobreviver por mais tempo”, destacou Carvalho. De acordo com ele, desde o início da empresa, e sempre houve a formação de um “colchão financeiro”, formado na proporção de 1/1. Ou seja, para 1 mês de faturamento, o mesmo deveria ser poupado no banco e, posteriormente, isso passou a ser de dois meses. Além disso, para blindar os recursos, a empresa escolheu adotar todas as facilidades disponíveis, como a postergação no recolhimento de impostos. “Não que era preciso, mas é uma oportunidade para que tracemos estratégias para o pior cenário”, contou.
O terceiro pilar foi trabalhar o lado emocional da equipe. “Colocar as pessoas dentro de casa, poderia ter gerado um caos, especialmente para quem é acostumado a trabalhar com pares. Por isso, precisamos retreinar gerentes e supervisores, aumentar a periodicidade de reuniões, criar novos indicadores para monitorar o que estava acontecer com as pessoas. No começo, liguei para mais de 300 pessoas do meu suporte, para saber como eles estavam se sentindo. Isso gerou sinergia. Na última semana, fizemos happy hour virtual para tirar a frieza da tecnologia”, descreveu.
Decisões tomadas pela empresa
Ladmir Carvalho conta que o impacto sofrido pela crise causada pelo coronavírus também foi sentido pela companhia. Houve grande perda de clientes, em sua maioria de empresários que decretaram falência. O resultado foi a ociosidade da equipe de suporte e adequações precisaram ser feitas. A Alterdata foi mais uma das empresas que precisou ajustar seu quadro de colaboradores. Segundo Carvalho, foram feitas análises baseadas na performance das pessoas e as que apresentavam a menor produtividade foram desligadas.
Outros desligamentos foram em áreas que tinham funções que estão desaparecendo com o tempo. O cenário permitiu que as 180 vagas que estavam abertas fossem preenchidas pelos próprios colaboradores que foram realocados, o que desafogou o caixa da empresa.
Papel do líder no caos
“A presença do líder é fundamental principalmente num cenário de guerra como este. Se não tiver a presença de líder, cria-se uma instabilidade violenta. É preciso mostrar que todos estão juntos na mesma trincheira. A equipe precisa saber que você está com ela. Por isso é tão importante fazer lives, reuniões e outras trocas com frequência”, desenhou o empresário. E, apesar do cenário turbulento, ele afirma que a empresa se tornou muito mais ágil, com a antecipação, inclusive de produtos que estavam previstos para os próximos anos. Entre os exemplos de ações aplicadas, a robotização de tarefas. “Um tubarão mergulhou em nosso aquário e nos fez trabalhar em outra dinâmica. Se você acha que vai sair da mesma forma que entrou, não está conectado ao mundo novo”, faz uma analogia. “Na Alterdata nada está escrito em pedra. Se tiver que rasgar documentos de30 anos, vamos rasgar. Se tiver que reinventar, vamos nos reinventar”, afirmou.
O contador precisa ser antifrágil
O conceito de “antifrágil”, no livro do libanês Nassim Kaleb, fala sobre um modelo de pensamento que reverte as crises a seu favor e é sobre ele que Ladmir Carvalho considera. “É preciso tirar algo bom do caos. E o melhor exemplo é fazer duas listas. Uma das coisas que você está fazendo neste tempo difícil. Anote todas as ações e processos. Na outra, anote suas fraquezas e tudo o que ainda precisa melhorar”, indica.
E quando se trata do profissional contábil, a solução deve ser imediata. “O contador não pode focar apenas em interpretar as medidas provisórias. Ele precisa se aprimorar no conhecimento que não é técnico, que é genérico. Precisa saber falar bem em público, precisa transmitir credibilidade, precisa buscar conhecimento, mover exércitos”, coloca.
Para o presidente do SESCAP-PR, Alceu Dal Bosco, o segredo está em sair da zona de conforto, especialmente quando os contadores estão submetidos a uma concorrência com modelo de trabalho digital.
E, nos tempos pós-pandemia, o empresário acredita que todos sairão melhores, voltados mais à colaboração, ao coletivo, à especialização. E o contador é essencial no auxílio às empresas de todos os portes.
“Quanto mais o contador automatizar os processos, haverá mais tempo para se aprimorar naquilo em que tem mais valor. Por isso precisa sempre se especializar para ser um agregador de valor.
O diretor de Eventos do SESCAP-PR, Amauri Nascimento, que também é empresário contábil ponderou que em um período como este, é preciso trazer para perto de si, para auxiliar em sua gestão, mais líderes capazes de compartilhar as dores e buscar soluções.
Ladmir Carvalho concorda e diz que o contador tem grandes vantagens, especialmente se acompanhar a performance com métricas relevantes. “As reuniões que eram feitas a cada três meses passaram a ser semanais. E, quando você começa a fazer isso, vê com quem pode contar e com quem não. Não podemos esperar a pessoa ficar motivada daqui dois anos. Esse é um período de ajuda curta e você precisa mostrar isso à sua equipe, porque, do contrário, o concorrente atropela e você perde o senso de credibilidade e justiça. Não se pode mais segurar funcionário que não entrega, porque quem tem performance baixa, ou se treina, ou se troca. É preciso ser um influenciador de pessoas”, enfatizou.