Fintech do Mercado Livre, o Mercado Pago está estreando no negócio de benefícios, incorporando a oferta de vale alimentação e combustível para clientes corporativos.
Negócio de R$ 150 bilhões dominado por quatro empresas — Alelo, Ticket, VR Benefícios e Sodexo — o mercado de benefícios corporativos vem atraindo novos entrantes como iFood, Flash e Caju, que chegam na esteira da desregulamentação do setor.
Hoje as quatro grandes, que detém 90% do mercado, atendem 300 mil empresas e 22 milhões de trabalhadores. Mas o Mercado Pago pretende entrar no segmento comendo pelas beiradas, oferecendo os benefícios para micro e pequenas empresas que não têm porte suficiente para se qualificar para a renúncia fiscal do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) por atuarem no regime de lucro presumido.
O programa de benefícios do Mercado Pago é oferecido para os trabalhadores por meio da conta digital da fintech, utilizando o mesmo cartão da bandeira Visa que o cliente já usa nas funções débito ou crédito. Além de amplamente aceito, diferentemente dos vales alimentação e refeição de Sodexo, Ticket, VR e Alelo, o cartão Visa cobra taxas de mercado, de 0,5% a 1,5%, enquanto os demais cobram de 7% a 9% dos estabelecimentos.
O benefício entra na conta digital, mas é carimbado. O cartão é programado para debitar automaticamente do saldo do benefício de alimentação quando o cliente passa num mercado, ou do saldo do benefício combustível, quando o cartão o estabelecimento for um posto de gasolina.
— Queremos tirar a burocracia para que as pequenas e médias empresas possam oferecer benefícios para os funcionários, mesmo sem poder aderir ao PAT — diz Gabriela Szprinc, responsável pela área de pagamentos para PME do Mercado Pago.
O Mercado Pago tem hoje 20,7 milhões de clientes ativos. Destes, quase 10 milhões também são vendedores do marketplace do Mercado Livre e que usam as maquininhas, links de pagamento e QR code para vender. Mas há também usuários não comerciantes e que têm conta digital para receber salário, fazer recarga de celular e todas as demais funcionalidades.
A fintech não descarta entrar no mercado regulado com empresas de médio porte, mas não é o foco neste momento.
As mudanças nas regras do PAT foram aprovadas no final do ano passado e acabam com a exclusividade dos cartões de vale refeição e alimentação e também eliminam a política do rebate oferecida pelas quatro grandes emissoras de vale, que devolvem até 2% do montante aprovado no PAT para as empresas.
— O segmento de benefícios está passando por uma mudança conceitual e as novas regras do PAT são muito bem-vindas. Faz todo sentido acabar com rebate e reduzir as taxas dos varejistas. Mas o caminho de renovação é de maior inclusão, ampliando os benefícios para segmentos que hoje são carentes, que são as empresas menores — diz o consultor em meios de pagamento Boanerges Ramos Freire. — Mas a lei que foi aprovada em dezembro não leva isso em consideração. Se liberar demais e não houver uma gestão da destinação dos valores, o benefício vai virar remuneração complementar de salário, o que é um desvirtuamento do propósito original —.