Perceber a fragilidade do outro e buscar possibilidades para amenizar a situação. Na rotina dos profissionais da contabilidade, a empatia é uma habilidade quase natural. Em 2008, atores da classe contábil perceberam essa vocação e decidiram se unir para aglutinar os esforços que estavam sendo feitos ao redor do país. A atitude resultou na criação do Programa de Voluntariado da Classe Contábil (PVCC).
Quatro anos antes, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) revelou que cerca de 15 milhões de brasileiros passavam fome ou estavam sob risco iminente de não poder comer. A crise econômica global elevou os preços dos alimentos, em média, em 83%, o que acirrou ainda mais as desigualdades sociais enfrentadas em periferias e lugares remotos do Brasil.
Foi este cenário que motivou o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e a ONG Ação Fome Zero a se unirem ao Governo federal em mais uma iniciativa de combate à fome. A parceria instituiu que, em cada um dos 5.570 municípios brasileiros, um profissional da contabilidade voluntário fiscalizaria a aplicação de recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Para conduzir as ações do projeto, uma comissão foi criada a partir da Portaria n.º 89/2008. A coordenação do grupo ficou a cargo de Pedro Gabril, que atualmente é conselheiro do CFC. Ele diz que, naquela época, desenvolvia sua tese de mestrado em controle social na gestão pública.
“O programa não nasceu apenas com o objetivo de acompanhar a gestão pública. Quando a portaria foi lançada, já havia outras incumbências. Promovemos uma série de capacitações para coordenadores das comissões estaduais. E, em dezembro, firmou-se o nome”, destacou Gabril, um dos precursores do PVCC.
Além dele, o atual presidente do CFC, Zulmir Breda, Marta Arakaki, José Aparecido Maion, João de Oliveira e Silva, Fátima Menezes e Cláudia Remião faziam parte da comissão que ajudou a implementar o programa que, hoje, conta com o engajamento de quase 10 mil profissionais da contabilidade.
Frentes de atuação
O coordenador nacional Elias Dib Caddah Neto explica que as ações promovidas pelo PVCC são divididas em quatro subprogramas. “O primeiro deles é relacionado aos Observatórios Sociais, que são responsáveis pela fiscalização dos recursos públicos, garantindo transparência na gestão. Nosso papel é estimular os voluntários a liderarem o processo de criação e operacionalização dessas instituições em seus municípios”.
Profissionais da contabilidade também podem atuar sensibilizando doações a projetos sociais, ao estimularem seus clientes, sejam pessoas físicas ou jurídicas, a destinarem parte de seu imposto de renda aos fundos municipais de proteção à criança e adolescente e de proteção aos idosos. Já no caso da educação financeira, os voluntários orientam a sociedade para questões relacionadas ao controle, planejamento e organização das finanças pessoais por meio de palestras e consultorias.
Por fim, existem as ações locais de voluntariado, que não se enquadram nos outros subprogramas. Assim, cada unidade regional desenvolve livremente campanhas de acordo com as demandas e momento.
“A classe contábil demonstra sua importância ao Brasil. Nós podemos ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade das mais diversas formas. O que mais importa é que cada um dê sua contribuição ao seu tempo e ao seu modo, seja em doações em dinheiro, alimentos, tempo ou no conhecimento técnico empregado nas prestações de conta de entidades sem fins lucrativos”, destacou.
Capilaridade nacional
Segundo Elias, o PVCC é um dos maiores programas de voluntariado por abranger todas as unidades federativas do Brasil. Atualmente, cada Conselho Regional de Contabilidade (CRC) possui uma equipe específica para desenvolver o projeto.
“Continuamos a levantar essa bandeira. Nossa ideia é ampliar cada vez mais o número de voluntários, em todo o Brasil, para que juntos possamos formar uma grande corrente do bem. Tudo isso balizado na cidadania, solidariedade, transparência e ética profissional” revelou, ao falar sobre as expectativas para o futuro.
Pandemia
O Estado do Amazonas viveu, no início deste ano, um colapso no sistema de saúde com registro de recordes diários nos casos e internações hospitalares em decorrência da Covid-19, além da falta de oxigênio para os doentes. Na tentativa de diminuir os efeitos da crise, os membros do PVCC deram início a uma mobilização nacional.
A presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Amazonas (CRC-AM), Joseny Gusmão, relatou que a ideia de estabelecer um plano de ação veio após receber a notícia de que profissionais estavam aflitos por não poderem exercer suas atividades e, com isso, algumas famílias estavam passando necessidades básicas.
Além das doações em dinheiro, os três meses de campanha resultaram na arrecadação de 170 cestas básicas, 50 kits de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), 100 pacotes de fraldas geriátricas e na distribuição de 700 sopas, 1.200 lanches, 1.200 sucos e 700 garrafas de água mineral.
Em agradecimento, Gusmão destacou: “dos vários frutos que nasceram dessa ação, o mais importante foi a união e fortalecimento da classe contábil, seguindo o espírito de união, força, coragem e comprometimento dos profissionais da contabilidade em meio a pandemia”.