O enfrentamento de um período de crise reflete diretamente no perfil de consumo de uma população. Em momentos de incerteza, parte da sociedade prefere concentrar esforços e recursos em ações e itens indispensáveis, de primeira necessidade.
Estudo realizado e divulgado recentemente pelo Governo do Paraná, em conjunto com a Receita Estadual e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), mostrou os produtos que foram priorizados pelos consumidores finais no Paraná em 2020 e os que, em contrapartida, foram menos consumidos e tiveram queda nas vendas. A pesquisa considerou os meses de janeiro a abril deste ano e fez comparativo com o mesmo período de 2019.
Dentro do período estudado estão meses em que o Paraná já se mobilizava e propunha medidas para combater o coronavírus. Entre as principais soluções adotadas pelo governo estadual estava o isolamento social mais rígido e o fechamento do comércio.
Entre as mercadorias que registraram aumento nas vendas no primeiro quadrimestre de 2020 estão, em grande parte, produtos alimentícios. Produtos da indústria de moagem, malte, amidos e féculas registraram aumento de 39% em relação ao ano passado. Gorduras e óleos animais ou vegetais e preparações de carnes ou peixes tiveram acréscimo de 23% e 18%, respectivamente. A categoria de leites e laticínios e ovos de aves também cresceu. Segundo a pesquisa, 13°% se comparado ao período anterior.
Para o economista João Ricardo Tonin, a movimentação de aumento no consumo de alimentos não está associada apenas ao medo do desabastecimento e do isolamento social causados pela crise do coronavírus. “Acho que esse é um dos efeitos. Outro é que somos uns dos maiores estados em produção de alimentos”, considera.
Na contramão desse cenário está a indústria que mais foi prejudicada em 2020. O setor de vestuário e seus acessórios registrou queda de 28% nas vendas em relação ao mesmo período de 2019. Em seguida, está a categoria de calçados e semelhantes, com diminuição de 25% nas vendas, conforme a pesquisa.
A categoria de bebidas, incluindo líquidos alcoólicos, também registrou queda na avaliação da Receita Estadual. As vendas diminuíram 3% em 2020 quando comparadas ao desempenho do setor no ano passado. Na categoria de veículos, a diminuição foi de 12%.
De acordo com Tonin, para alguns setores, a queda nas vendas já era esperada. No entanto, outras indústrias foram pegas de surpresa. “É o caso do setor automobilístico e bebidas, que talvez não esperassem uma queda tão forte assim. O agronegócio já esperava um efeito positivo, devido ao histórico de outras crises”, explica.
Diminuição nas vendas e impacto regional
De forma geral, o desempenho dos polos industriais paranaenses, instalados em determinadas regiões do estado, impactam diretamente no desenvolvimento comercial de cada local. A queda ou o aumento nas vendas dos produtos produzidos por uma área do Paraná refletem no impacto, positivo ou negativo, que a região vai sentir.
O economista João Ricardo Tonin avalia três principais regiões do estado e entende que, por causa da atuação principal de cada região, algumas áreas parecem ter sido mais afetadas que outras. “A região de Curitiba e Ponta Grossa tem sido diretamente afetada, principalmente pelas indústrias voltadas pelo consumo interno - automóveis, vestuário, calçados e bebidas. E a retomada irá demorar, pois precisa de abertura comercial e maior circulação de renda”, detalha.
Para ele, a região de Maringá e Londrina também foi impactada, mas em menor proporção. “[A região] tem uma participação maior em setores de serviços. No caso saúde e TIC [Tecnologias da Informação e Comunicação] tem se beneficiado, o que pode reduzir um pouco o efeito negativo”, diz Tonin.
Por fim, na visão do economista, o melhor desempenho é o do oeste do estado. “A região oeste está melhor que a média, aproveita de melhor preços de commodities por ser uma região agrícola, e também apresenta maior proporção de indústria do setor farmacêutico”, afirma.
Diante de um cenário de crise, conforme explica Tonin, é possível estudar e entender quais ações comerciais podem reduzir impactos negativos. Segundo ele, o segredo é a diversificação.
“[Um] detalhe que vejo nesses números é o impacto do câmbio. As cidades que focaram sua estratégia apenas no desenvolvimento da indústria ao longo dos anos estão sofrendo mais. A lição que aprendemos agora é de que setores mais diversificados criam cidades mais resilientes à crise. As cidades de forma individual em coordenação do governo do Paraná precisam urgentemente criar planos estratégicos de desenvolvimento de longo prazo para saírem mais rapidamente dos efeitos negativos dessa crise.”