É na hora de mudanças importantes na economia, como a reforma trabalhista e a ampliação do eSocial, que o trabalho do contador ganha mais destaque no ambiente corporativo. Apesar da crise, que ocasionou o fechamento ou o encolhimento de um grande número de empresas, os escritórios de contabilidade estão a pleno vapor.
Ao mesmo tempo que buscam manter seus clientes atualizados, os escritórios contábeis investem em treinamentos e em formas mais eficientes de analisar as informações para oferecer as melhores alternativas aos clientes.
A reforma trabalhista tem sido uma das principais geradoras de demanda, explica Márcio Massao Shimomoto, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP).
Apesar de só entrar em vigor em novembro, a nova legislação trabalhista deixou as empresas e os sindicatos com dúvidas sobre como será a relação entre patrões e empregados porque falta regulamentação.
Para os escritórios de contabilidade, este cenário aumentou o trabalho e a demanda por consultoria. Depois que as novas regras forem implementadas, a demanda continuará. "Esses profissionais, assim como as bancas de advocacia, serão necessários na intermediação de acordos entre empresas e trabalhadores", diz Shimomoto.
Gildo Freire de Araújo, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP), acredita que a conjuntura ampliou o espaço para as empresas do setor. "É a chance de mostrar-se mais eficiente e atuar como parceiro no planejamento tributário e fiscal, tanto na área privada quanto na pública", aponta.
Para melhorar essa compreensão sobre oportunidades, o CRCSP tem feito uma série de palestras para divulgar as novas demandas. "As mudanças são constantes. Hoje, por exemplo, vemos o Fisco estadual e federal usando novas soluções tecnológicas e colocando em prática monitoramentos muito mais amplos. As empresas precisam se preparar para a nova forma de monitoramento fiscal com ajuda de profissionais de contabilidade", avalia.
Requisitos
A entrada em vigor de mais uma etapa do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), que passará a ser obrigatório a partir de janeiro de 2018 para empresas com faturamento anual superior a R$ 78 milhões em 2016 e em 1º de julho de 2018 para os demais empregadores e contribuintes, é outra fonte importante de trabalho para os escritórios de contabilidade. Para se adequarem, as empresas vêm implementando ajustes em seus bancos de dados.
Estima-se que 70 mil empresas precisarão fazer a adesão ao sistema no próximo mês de janeiro. O objetivo do eSocial é unificar o envio de informações pelo empregador ao governo sobre seus funcionários, padronizando a transmissão, a validação, o armazenamento e a distribuição de dados sobre as obrigações previdenciárias, trabalhistas e fiscais.
O processo de adequação de uma empresa ao eSocial normalmente é feito em duas frentes: a contábil e a de programação de dados. "As empresas estão transferindo seus bancos de dados trabalhistas para o on-line e corrigindo informações. Não é um trabalho fácil. Por isso, quem tem de fazer a adaptação ao eSocial começou já faz tempo", diz Shimomoto.
Mas, como a validação do eSocial já foi protelada antes, ainda há empresários que apostam em um novo adiamento. Uma pesquisa realizada pela Sage, líder em software de gestão, aponta que 39% dos entrevistados estão inseguros sobre o cumprimento do prazo final para a adequação dos processos e sistemas.
Segundo o levantamento feito junto a 487 empresas de diversos setores, apenas 7% dos entrevistados se consideram preparados para as mudanças que terão de ser feitas para adotar o eSocial. O principal desafio neste momento é se adaptar à nova rotina de trabalho, que exigirá o cumprimento em tempo real das atividades diárias, explica Elton Donato, diretor da unidade de negócios accountants, da Sage Brasil.
Para Reinaldo Lima, da Lima Contabilidade Gestão Contábil e Empresarial, além da demanda gerada com o eSocial e a reforma trabalhista, as empresas têm se mostrado mais preocupadas em ter seus números em ordem. Isso porque o governo, em diferentes esferas, vem aumentando a fiscalização para compensar a menor arrecadação e as dificuldades de caixa.
"Apesar da crise, estamos otimistas, trabalhando mais. Ao mesmo tempo que o governo aumenta o cerco para arrecadar mais, as empresas estão investindo em controles internos com o objetivo de não deixar brechas para possíveis multas e, ao mesmo tempo, tentar pagar menos tributos", explica Lima.
Com tanto trabalho de assessoria contábil, acabou surgindo um problema: falta mão de obra mais qualificada. O mercado demanda profissionais que analisem balanços, conheçam a legislação trabalhista e se comuniquem de forma assertiva para entender as demandas dos clientes. "O profissional ideal ainda é escasso e, por isso, muitas empresas têm investido em capacitação para dar conta da demanda", diz Shimomoto.