A pandemia continua provocando dificuldades na reposição de estoques das empresas brasileiras, mostra pesquisa divulgada nesta terça (15) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com o instituto, 47,6% das empresas pesquisadas relataram algum problema para obter insumos, matérias primas ou mercadorias.
As dificuldades começaram a ser percebidas mais fortemente em julho, após a reabertura das lojas na maior parte do país e segue como a principal queixa de segmentos como comércio e construção. No comércio varejista, metade das empresas pesquisadas disseram ter esse tipo de problema.
Os dados são parte da pesquisa Pulso Empresas, criada pelo IBGE para medir os impactos da Covid nas empresas brasileiras. É divulgada a cada 15 dias. Os dados referentes à primeira quinzena de agosto não trouxeram grandes alterações em relação à quinzena anterior, indicando estabilidade no sentimento dos empresários.
Em geral, quatro em cada dez empresas dizem ter sido afetadas negativamente pela pandemia na quinzena da pesquisa, praticamente o mesmo percentual da quinzena anterior. A segunda principal queixa, atrás da dificuldade para repor estoques, é a diminuição nas vendas, que afetou 36,1% das empresas pesquisadas.
O valor é bem inferior ao verificado na primeira pesquisa (70,7%) mas estável, na avaliação do IBGE, em relação aos 34,4% verificados na quinzena anterior. O analista do IBGE Alessandro Pinheiro destaca, porém, que o tipo de impacto mais relevante mudou durante a evolução da quarentena.
Enquanto no início, com lojas fechadas, a queda nas vendas era a principal preocupação, hoje é a reposição dos estoques. Entre os dois, houve um período em que a dificuldade de realizar pagamentos de rotina esteve no topo das preocupações dos empresários.
Na semana passada, empresários relataram à Folha atrasos em entregas, falta de produtos e aumento de preços. O problema afeta principalmente pequenas empresas, já que as grandes cadeias varejistas costumam ter preferência nas negociações com a indústria.
O comércio foi o único grande setor da economia que já recuperou as perdas dos piores meses da pandemia. A retomada, porém, é desigual e tem grande influência de bens essenciais, como comida e produtos de limpeza, de produtos para o lar e materiais de construção.
Outros segmentos mais dependentes da circulação de pessoas, como vestuário e calçados, ainda estão em níveis bem abaixo do verificado antes da pandemia, que já eram baixos considerando os picos de venda atingidos antes da crise de 2014.