Neste ano, a comemoração do Dia do Profissional da Contabilidade se dá em um cenário de muitas mudanças e incertezas, mas também de inúmeras oportunidades. Não faz muito tempo, a profissão passou por uma verdadeira revolução, quando os registros contábeis deixaram de ser feitos em papel, manualmente, para entrar na era digital. Muitos ainda se lembram da preocupação que tomou conta do mercado ante previsões catastróficas de que as máquinas acabariam com a profissão. No entanto, não foi isso que se observou. Ao contrário. Quanto mais avançam a fome arrecadadora dos governos ao redor do mundo, o acesso às informações de pessoas e empresas, a globalização e o clamor da sociedade por condutas éticas e transparência das instituições públicas e privadas, mais cresce a importância do profissional da contabilidade como conselheiro, consultor e guardião de informações estratégicas.
A mesma tecnologia que, junto com o advento dos IFRS (International Financial Reporting Standards), elevou as Ciências Contábeis a um patamar mais alto no mundo corporativo em âmbito global, alçando o profissional contábil a posições estratégicas dentro das organizações, hoje é vista novamente como ameaça. Mas afinal, serão mesmo a contabilidade online e a inteligência artificial os bichos de sete cabeças que o mercado enxerga hoje? Ou será que elas estão apenas tirando o profissional contábil novamente da zona de conforto?
A onda digital ganha força à medida em que novos players entram com tudo nesse mercado. Enquanto profissionais e empresas dotados de maior capacidade de adaptação comemoram as oportunidades criadas pela evolução tecnológica, é natural que muitos profissionais se sintam prejudicados e busquem apoio das entidades de classe e órgãos reguladores para tentar manter seu status quo. Ao mesmo tempo, os organismos reguladores da profissão empenham-se para rever os padrões de conduta do profissional, pavimentando o caminho para acomodar as novas modalidades de serviços que surgem no mercado, sem prejudicar as já existentes. Faz um ano que o International Ethics Standards Board for Accountants® (IESBA®), por exemplo, divulgou um novo Código de Ética para Profissionais da Contabilidade, e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) aprovou em fevereiro o novo Código de Ética Profissional do Contador, que entra em vigor no próximo dia 1º de junho. Nesses novos conjuntos de normas, os princípios fundamentais de ética permanecem os mesmos, mas importantes revisões foram feitas para unificar a estrutura conceitual. No Brasil, o novo código proporciona mais clareza quanto a questões atuais de mercado, envolvendo precificação de serviços, marketing contábil e lealdade concorrencial e responsabilidade do profissional.
A grande questão no momento é saber se o futuro para o profissional contábil é, afinal, desolador ou promissor. Arriscando um paralelo com o mundo das telecomunicações, quando surgiu a televisão, dizia-se que ela acabaria com o rádio e com o cinema. Quando surgiu a TV a cabo, que ela acabaria com a TV aberta, e que os serviços de streaming e canais de vídeo na internet acabariam com a TV a cabo. No entanto, cada apetrecho segue ocupando seu espaço e os empresários e trabalhadores desse ramo seguem inventando maneiras de cativar seus públicos e de se manterem relevantes. Os exemplos se multiplicam em outros campos, como nos transportes, na agricultura e em diversos segmentos da atividade humana, que de tão diversificada e dinâmica, não para de abrir espaço para acomodar as novidades.
Assim será também com as Ciências Contábeis. Sempre haverá espaço para o bom profissional e para o bom empresário, para o pequeno e para o grande, para o tradicional e para o inovador, mas acima de tudo, para aquele que se mantiver atento, atualizado, estudando e ligado nas necessidades dos seus clientes e do mercado.
Artigo do presidente do CRCPR, Marcos Rigoni