O consumo das famílias, item que tem maior peso no PIB, teve em 2019 seu pior desempenho desde o fim da última recessão brasileira. A alta foi de só 1,8%, após avanço de 2,1% em 2018 e de 2% em 2017, informou nesta quarta-feira o IBGE.
No ano passado, segundo o IBGE, o PIB cresceu 1,1%. O consumo da família responde por 64,9% do PIB.
O fraco desempenho desse componente do PIB reflete o desemprego ainda elevado, que comprime os gastos das famílias. No fim do ano passado, o país tinha 11,6 milhões de desempregados.
O comerciante André Martins, 49 anos, está sem emprego há um ano, após fechar sua loja de lanches. Com isso, a família precisou cortar o curso de inglês da filha, Emily Gomes, de 17 anos, além do plano de saúde de André e a TV por assinatura da residência.
A família se sustenta agora com o salário de assistente comercial de Eliane, mulher de André, de 40 anos. Os gastos com lazer também foram cortados.
- Para economizar, temos evitado sair. Antigamente, a gente saía. No fim de semana, íamos a um restaurante, em um shopping almoçar, mas não estamos fazendo mais – disse Eliane.
A família equilibra o orçamento com a ajuda de familiares, como o pai de André, que cedeu parte do terreno de sua casa para que eles morassem. Os irmãos de Elaine também ajudaram, ao darem chips vinculados aos seus planos de telefonia para ela e a filha. E Emilly também paga algumas de suas despesas com as artes gráficas que produz para lojas.
Mesmo com a liberação de recursos do FGTS no fim do ano passado e com a redução da taxa de juros para o menor patamar histórico, o crescimento do consumo das famílias no quartro trimestre de 2019 perdeu ímpeto. A alta foi de 0,5% frente ao terceiro trimestre, já com ajuste sazonal. Entre julho e setembro, os gastos das famílias haviam avançado num ritmo mais forte, de 0,7%.
O setor de serviços, fortemente influenciado pelo consumo das famílias, avançou só 1,3% em 2019, abaixo da alta de 1,5% de 2018. Segundo Rebeca Pallis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a desaceleração nos serviços fez com que o PIB tivesse um desempenho menor do que nos dois anos anteriores.
Comércio tem pior resultado desde 2016
O comércio, que está incluído no setor de serviços, apresentou o menor crescimento desde 2016, com alta de 1,8%, mesmo com a liberação de recursos do FGTS.
- Essa diferença no serviços explica o crescimento menor de 2019. E a indústria ficou com o mesmo crescimento de 2018, mas por dentro a composição mudou muito - explica.
Com o consumo das famílias perdendo fôlego, a demanda interna teve peso menor no PIB de 2019. A alta foi de só 1,7%, contra 1,8% em 2018. A demanda interna representa o quanto do crescimento é puxado por fatores internos.
Já a demanda externa, que representa a diferença entre as exportações e importações, foi negativa, retirando 0,5 ponto percentual do PIB. As importações avançaram 1,1% em 2019, enquanto as exportações registraram queda, de 2,5%.
O recuo nas vendas externas do Brasil reflete a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a crise econômica da Argentina. O principal impacto foi na indústria automobilística, que tem na Argentina seu maior mercado para exportações.
Em 2018, as exportações haviam subido 4%:
- Mesmo com a desvalorização do câmbio, vimos o setor (de exportações) contribuindo negativamente para o crescimento do PIB (em 2019). Isso ocorre, principalmente, por conta do cenário externo. A guerra comercial e, especialmente no caso brasileiro, a crise econômica da Argentina, a principal demandante de produtos industrializados do Brasil, são explicações para esse cenário negativo das exportações.
Além do consumo das famílias e das exportações, também perdeu espaço no PIB a despesa do governo. Em 2018, os gastos do poder público avançaram 0,4%. No ano passado, houve queda, de 0,4%. Os números refletem o ajuste fiscal do governo.