A transformação digital é uma realidade cada vez mais presente nas empresas. Embora as tecnologias digitais disruptivas tenham começado a entrar nas companhias por volta de 2007, trazendo à tona temas como o BYOD (uso de aparelhos pessoais no trabalho), o processo de adoção está se consolidando uma década depois.
Cada vez mais as empresas percebem o diferencial competitivo dessas tecnologias. Na ponta de toda a estratégia de negócios integrada ao mundo digital estão interfaces de interação com usuários e clientes, entre elas os populares aplicativos.
Entre janeiro e março deste ano, foram vendidos no Brasil 12,4 milhões de aparelhos celulares de alto padrão. Segundo a consultoria IDC, todos os anos 38% dos smartphones ativos são trocados por modelos mais novos. Até o final de 2017, as vendas desses dispositivos devem crescer 8% em relação a 2016.
O mercado de aplicativos no Brasil não fica para trás. No ano passado, Mark Bennet, diretor internacional do Google Play, apontou que o país é um "fenômeno" no uso de apps na comparação com outros mercados.
De acordo com o estudo A economia de Aplicativos no Brasil, conduzido pelo Progressive Policy Institute (PPI), aponta que o setor de desenvolvimento de apps emprega 312 mil pessoas no Brasil -- mesmo após dois anos de retração econômica. O crescimento anual estimado é de 30%. Já um levantamento do Pew Research Center mostra que, em 2015, 61% dos brasileiros entre 18 e 34 anos de idade tinham um smartphone no bolso.
Nesse cenário, as empresas estão investindo forte no desenvolvimento de aplicativos, cada uma com seu objetivo estratégico: desenvolver relacionamentos, abrir mais um canal de vendas ou aumentar a base de assinantes. "A forma como o consumidor deseja se relacionar com as empresas mudou, especialmente, os processos de compra e de atendimento", explica Leandro Diniz, gerente executivo da Associação Comercial de Campinas.
A ascensão de outras tecnologias -- como a Internet das Coisas, wearables e Big Data -- deve alimentar esse mercado mesmo depois de a onda perder força. A pesquisa App Annie 2016 Retrospective revelou que o tempo gasto em aplicativos cresceu 25% no ano passado -- aumentando a receita dos desenvolvedores em 40%.
App precisa estar alinhado ao mercado consumidor
Esse frenesi, no entanto, não significa que os clientes estão dispostos a aceitar qualquer coisa. "Fazer aplicativo apenas por fazer e depois ele não funcionar pode gerar mais insatisfações e reclamações do que negócios", lembra a especialista em TI Renata Valéria Lopes. "Por isso deve-se ter em mente que há um custo de desenvolvimento, manutenção e, principalmente, de administração da plataforma", explica.
Segundo Valéria, que atua há 25 anos no mercado de tecnologia para empresas, os tipos mais comuns de aplicativos solicitados são de automação de vendas e apps para feiras e eventos. Ela conta que a maior dificuldade dos empresários é entender os custos envolvidos no desenvolvimento.
"Quando se fala em aplicativo, é preciso entender que há o mundo iOS e o Android. São dois desenvolvimentos e por conseguinte dois investimentos", diz. Para ela, a regra de ouro é "sempre começar focando o consumidor", bem como pesquisar para saber se essa é a solução mais adequada para atender ao público.
"O empreendedor deve entender que o aplicativo deve funcionar como um canal de troca de informações com o seu público final, que no final, são pessoas. Aí entra a principal questão, que é: por que o usuário manteria o meu aplicativo instalado em seu celular?", ressalta Bruno Maia, diretor da Lux Tecnologia.
Maia critica os aplicativos que funcionam apenas como uma versão responsiva do próprio site, destacando que esses são os apps que os usuários mais facilmente descartam. "A maior dificuldade enfrentada hoje é como implementar uma solução mais prática e que fidelize o usuário", diz.
4 empresas que sabem fazer
1. Omnistory
O grupo GS lançou uma loja que integra aspectos do mercado varejista físico e digital, a Omnistory. A ideia é oferecer recursos de omnichannel -- onde todos os pontos de contato entre consumidor e loja são unidades de venda -- de maneira nativa.
“A Omnistory é mais do que um ponto de venda ou uma loja de e-commerce, é um laboratório para aplicação de conceitos e soluções inovadoras para o varejo. É uma experiência de varejo que já nasceu integrada: loja física, e-commerce, aplicativo, vending machine e shopping TV.”, afirma Marcos Gouvêa, fundador e diretor-geral do Grupo GS
De quatro em quatro meses, a oferta de produtos, serviços e experiências é alterada para acompanhar as tendências de mercado. A unidade foi aberta no shopping Villa Lobos, em São Paulo (SP) e, inicialmente, atuará no setor de saúde, beleza e bem-estar.
2. Quero Bolsas
A empresa foi criada em 2012 com a ideia de conectar alunos em busca de bolsas de estudo a instituições de ensino que oferecem descontos de até 70%. Segundo Lucas Gomes, diretor de Produto e Crescimento da empresa, o modelo favorece os dois lados e não oferece riscos financeiros às universidades.
Na segunda metade do mês de agosto deste ano, a empresa decidiu lançar um aplicativo próprio, "visando facilitar a vida do usuário na consulta de bolsas". A ideia é ajudar os usuários no processo de decisão.
Até o momento, segundo Gomes, o aplicativo já soma 10 mil instalações. A expectativa é chegar a 100 mil usuários mobile até o final do ano.
3. Superbom
Focada no desenvolvimento de alimentos naturais e com baixo índice calórico, a Superbom lançou um aplicativo próprio para receitas saudáveis em junho do ano passado. A ideia é reforçar os valores da marca oferecendo informações úteis ao seu público-alvo.
O app tem mais de 10 mil instalações. Nas suas últimas atualizações, há a opção de receber uma notificação a cada lançamento de novas receitas e sugestões de rotas para os pontos de venda da marca a partir da geolocalização. A expectativa da empresa é aumentar o volume de vendas em 10% até o final do ano.
4. Nexo
O jornal digital abriu espaço no mercado com produtos voltados para atingir leitores em diversos canais, entre eles a newsletter diária. Segundo Maia Fortes, coordenadora de Gestão e Desenvolvimento Institucional, a newsletter tem uma taxa de abertura acima da média do mercado.
Recentemente, a empresa lançou um aplicativo que leva a newsletter diária aos usuários de smartphones -- com a vantagem de contar com a notificação push. "A ideia surgiu da equipe de tecnologia há cerca de um ano, a partir da interação com nossos leitores e do entendimento de suas demandas", conta Maia.
Com o app gratuito, a estratégia é trabalhar a base de leitores para ampliar a conversão em assinantes pagos. "Quanto mais penetramos na base de leitores do Brasil, mais assinantes obteremos", diz a coordenadora.
"Mas, para além disso, nos interessa prestar o serviço de trazer informação diária com curadoria também aos que não são assinantes do Nexo", completa. A empresa deverá lançar outro app até o final do ano, dessa vez do próprio jornal.