Impactado pela crise do novo coronavírus, o mercado de trabalho brasileiro perdeu 1,1 milhão de empregados com carteira assinada entre março e abril deste ano.
O efeito da Covid-19 no emprego começou em março, mas se intensificou em abril. Nos dois primeiros meses do ano, a economia brasileira vinha criando mais postos de trabalho que em 2019.
Em janeiro e fevereiro, antes da crise de saúde pública, o país criou 338 mil vagas —quase 50% a mais do que o registrado nos dois primeiros meses de 2019.
Com o resultado negativo de março e abril, já sob efeito de medidas restritivas nas cidades e fechamento de comércio e empresas, porém, o setor passou a acumular saldo negativo no ano.
Assim, no primeiro quadrimestre de 2020 foram fechadas 763 mil vagas formais. No mesmo período de 2019 haviam sido criados 313,8 mil postos de trabalho formais no país.
Os dados, do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) foram apresentados nesta quarta-feira (27) pelo Ministério da Economia, com após meses de atraso.
O maior impacto da Covid-19 foi registrado em abril, quando o saldo do mercado de trabalho formal foi o fechamento de 860,5 mil vagas.
O saldo de abril é o pior para todos os meses da série histórica do ministério, iniciada em 1992.
“Não é o mais negativo; é o mais diferente”, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.
O saldo de trabalhadores com carteira assinada foi de 38 milhões em abril de 2019.
Em abril do ano passado, o Caged apontou a criação de 129,6 mil postos com carteira assinada.
Em março de 2020, quando foi declarada situação de pandemia, também houve piora no mercado de trabalho, mas foi mais suave. Foram cortadas 240,7 mil vagas naquele mês, enquanto que, em março de 2019, o fechamento foi de 42,2 mil postos.
Em análise dos dados, o banco Goldman Sachs diz esperar que o declínio de empregos com carteira assinada deve continuar pelos próximos meses.
Os dados de abril mostram "um recorde negativo da série que é cerca de seis vezes a média mensal de perda de empregos do segundo semestre de 2015 (cerca de 160 mil) e três vezes o total das perdas de trabalho durante a crise de 2008 e 2009 (cerca de 250 mil)", diz o banco.
Setores
Segundo dados do governo, os setores que mais demitiram de janeiro a abril de 2020 foram comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas, com fechamento de 342,7 mil empregos formais.
O ramo de serviços cortou 280,7 mil postos e a indústria, 127,9 mil.
Os trabalhadores da construção civil foram menos afetados pela crise, com o fechamento de 21,8 mil empregos.
O único setor com saldo positivo de vagas foi o agronegócio. Foram criadas 10 mil vagas entre janeiro e abril.
O comportamento do mercado, medido pelo Caged, costumava ser divulgado mensalmente, mas essa publicação estava suspensa desde o início do ano após mudanças de metodologia e dificuldades do governo em receber dados das empresas por conta da pandemia.
Até então, o país vivia um apagão de informações sobre o emprego formal. O último dado do Caged disponibilizado pelo governo era relativo a dezembro do ano passado.
Informações sobre pedidos de seguro-desemprego já indicavam uma deterioração do mercado de trabalho. Dados reunidos até a primeira quinzena de maio mostram que foram feitas 2,8 milhões de solicitações do benefício no ano, alta de 9,6%. O governo ainda estima uma defasagem na estatística porque outras 250 mil pessoas têm direito à assistência, mas ainda não fizeram o pedido.
Membros da equipe econômica afirmam que os dados do desemprego neste ano seriam ainda piores se o governo não tivesse implementado a medida que autorizou a suspensão ou o corte proporcional de jornadas e salários de trabalhadores.
O programa que libera acordos desse tipo entre patrões e empregados já atingiu 8,1 milhões de pessoas. O governo argumenta que, nesse caso, 8 milhões de empregos foram salvos até o momento.
“É um número duro que reflete a realidade de pandemia que vivemos, mas que traz em si algo positivo. Demonstra que o Brasil, diferentemente de outros países, está conseguindo preservar emprego e renda”, disse o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco.
Embora avalie que as demissões ainda estejam parcialmente controladas, Bianco reconheceu que, também por conta da pandemia, há dificuldade de manter o mesmo nível de contratações observadas no ano passado.