Com a crise econômica, o brasileiro vem mudando suas prioridades ao consumir itens de alimentação, higiene e beleza. Mais de 80% dos consumidores já substituíram itens de marcas caras por outras mais baratas. É o que revela uma pesquisa realizada pela Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).
Os clientes também estão de olho nos preços mais competitivos. Do total de entrevistados, 31,5% responderam que vão a farmácias e supermercados para fazer pesquisa de preços antes de efetuarem as compras.
"O poder de compra está reduzido, e o brasileiro está usando os recursos que existem como buscar por ofertas, experimentar novas marcas, substituir itens para economizar sem excluir nenhum produto. Nossa orientação é sempre pesquisar em várias redes para conseguir fechar todos os itens da lista de compras", orienta Fábio Queiróz, presidente da Asserj.
Na casa da analista de produtos e marcas Victoria Pereira, a preferência por marcas foi deixada de lado desde o começo da pandemia, e as idas ao mercado viraram a escolha pela opção mais barata.
— Nossa renda caiu porque temos autônomos na família que não estavam trabalhando. A gente passou a comprar o que estava na promoção e até escolher a marca do próprio mercado, que é mais barata, mas tem qualidade inferior. Tudo isso dá uma economia no final (do mês) — explica a analista, que adotou a mesma estratégia para cosméticos e produtos de higiene pessoal.
Na aventura por marcas com preços mais atrativos, descobriu opções que trazem, ao mesmo tempo, qualidade e economia, como na escolha por batata palha e leite. No entanto, quando se trata de alimentos-chave no seu dia-a-dia, como arroz e feijão, não abre mão das marcas que já conhece e confia.
Beneficiários do auxílio emergencial têm priorizado gastos com alimentação (56,5%), de acordo com o levantamento. Porém, com a renda comprometida, 11,7% deles precisam usar o dinheiro para pagar dívidas, enquanto outros 10,8% compram remédios — itens de primeira necessidade.
Adeus, carne vermelha
Do total de pessoas ouvidas, 88,7% disseram que passaram a comer mais frango e menos carne bovina por causa da inflação. De acordo com a plataforma Cesta de Consumo Horus & FGV Ibre, recém-lançada, a carne bovina é um dos itens que mais têm contribuído para a alta da cesta básica, junto aos legumes, ao café e à farinha de mandioca.
A preferência pelo frango virou realidade na casa de Victoria, que praticamente cortou o consumo de carne vermelha e começou a "inovar" nas receitas com a carne branca para o dia-a-dia:
— A carne vermelha ficou muito cara mesmo, então passamos a inventar algumas receitas. Colocamos maionese no frango para dar um gosto diferente, e começamos a investir mais em temperos para mudar a dieta no cotidiano para itens mais baratos.
O elevado custo da proteína pode ser explicado pelo término do embargo das exportações de carne bovina brasileira. Além disso, a escassez hídrica do ano passado prejudicou as lavouras de milho e soja e pastagens, usadas na alimentação do gado. Dessa forma, os fazendeiros precisam gastar mais com ração e acabam repassando os custos para o consumidor final.
Também entram na conta da produção as despesas com energia elétrica e com frete, elevado pela alta dos combustíveis.