Sem insumo, indústria já atrasa entregas e recusa encomendas

Fonte: O Globo
23/10/2020
Geral

Sondagem feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira mostra que o setor industrial brasileiro está com dificuldade de obter insumos para a produção: 68% das indústrias relataram problemas para encontrar matérias-primas no mercado doméstico em outubro. Com o estoque reduzido, 44% das empresas já têm deixado de atender clientes ou atrasado entregas.

No caso da falta de insumos, o problema para suprimento é um pouco menor quando se tratam de matérias-primas importadas: 56% das empresas que compram seus insumos do exterior encontram dificuldade..

Na avaliação da CNI, essa falta de insumos aconteceu por conta da natureza da crise. No início da pandemia, a demanda caiu e, como reação, a redução no faturamento, o que levou as empresas a diminuírem os estoques.

Porém, a retomada econômica foi mais rápida do que o esperado e pegou os fornecedores de insumos e matérias-primas despreparados

“As cadeias produtivas estavam desmobilizadas; produtores e fornecedores de insumos contavam com poucos produtos em estoque. Isso gerou escassez e aumento dos preços de insumos nesse período de retomada econômica".

"Adiciona-se a esse choque a desvalorização do real, que aumentou os preços dos insumos importados e dos que, mesmo produzidos no país, têm seu preço atrelado ao mercado externo.”

Esse desequilíbrio entre oferta e demanda acabou levando a um aumento nos preços dos insumos. A pesquisa mostra que 82% das empresas perceberam um crescimento nos preços no terceiro trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado.

De acordo com os industriais ouvidos, 31% perceberam um aumento acentuado, 51% um aumento, 16% estabilidade nos preços e 2% queda.

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, os preços devem sofrer uma adaptação ao longo do ano, menos os que dependem muito do dólar por conta da alta na taxa de câmbio.

— A expectativa é que vai existir uma determinada acomodação dos preços dos insumos. Porém, nem todos, alguns são estruturais, questão da taxa de conversão do dólar ou mesmo questão da baixa produção, teve que reduzir, mas aí vamos ter acompanhar essa evolução.

Dificuldade de atender a demanda

De acordo com a sondagem, 44% das empresas estão com dificuldade de atender a demanda, deixando ou demorando a atender os clientes por causa do estoque reduzido.

Outro problema é a falta de trabalhadores e de recursos. A pesquisa apontou que para 23% das indústrias, falta mão de obra, enquanto 22% dizem que não têm recursos ou capital de giro para aumentar a produção.

Segundo Abijaodi, as empresas estão se readequando ao aumento na demanda, depois de passar por uma baixa durante a crise. Com isso, o nível de emprego deve subir, ainda que lentamente.

— Nós não temos hoje um comércio ativo, as encomendas não devem ser no ritmo que estavam sendo, mas a expectativa agora no fim do ano, pode representar um aumento de vendas e eles então estão avaliando desta forma, mas deverá sim crescer o emprego.

Os setores que mais enfrentam problemas em atender à demanda são os de móveis, com 70% das empresas relatando dificuldades; da indústria têxtil, com 65% e de produtos de material plástico, que registrou 62% das empresas com dificuldade.

Na avaliação das indústrias, esse problema não vai ser resolvido tão cedo. Mais da metade (55%) acredita que a situação só vai se normalizar em 2021. Essa expectativa mais longa é concentrada nos setores de papel e celulose, têxteis, alimentos, extração de minerais não metálicos, produtos de metal e imóveis.

Pequenas indústrias

A pesquisa também mostra que as pequenas empresas são as mais afetadas pela falta de insumos. Enquanto 66% das grandes têm dificuldade de atender os clientes, o número sobe para 70% nas pequenas.

No caso da obtenção de importados, a distância é ainda maior. Ao mesmo tempo em que 77% das pequenas relataram dificuldade de obter essas matérias-primas, apenas 50% das grandes se encontram na mesma situação.

O diretor da CNI explica que as pequenas empresas têm menos estrutura e menos fluxo de caixa, o que as torna mais suscetíveis ao impacto da crise. No entanto, Abijaodi ressalta que elas também conseguem encontrar mais alternativas para driblar as dificuldades.

— Elas são mais criativas em encontrar alternativas para poder sair. Elas têm necessidade de produzir com o mesmo material, mas como tem essa pressão, elas encontram outros meios e devem estar alertas.

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