A crise decorrente da pandemia do novo coronavírus reduziu a quantidade de acordos coletivos entre empresas e sindicatos dos trabalhadores e restringiu as negociações salariais. Segundo um levantamento do Dieese, entre janeiro e outubro deste ano, foram registrados 20.812 acordos, sendo que só 7.572 trataram de salário.
Em quase um terço deles (2.084), o reajuste acertado ficou abaixo da inflação, sendo que em 676 as partes concordaram que não haveria qualquer aumento. Em todo o ano passado, foram fechados apenas 39 acordos nesses termos.
Já outros 2.382 acordos salariais conseguiram a reposição da inflação, e 3.106 tiveram ganhos reais. Entre as categorias que conseguiram superar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) — que atingiu 4,77% no acumulado dos últimos 12 meses até outubro — estão as do ramo de informática.
Segundo o Dieese, professores da rede privada e trabalhadores da área de seguros, por exemplo, estão no grupo que fechou acordo sem aumento de salário.
Categorias de setores mais impactados pela crise, como comércio e serviços, que demoraram a retomar as atividades, adiaram as negociações para janeiro de 2021. Mesmo assim, não há garantia de que os acordos conterão reposição da inflação e de forma retroativa.
De acordo com o Dieese, quase metade (48,8%) do total de 22.910 acordos fechados em 2019 tinha cláusula de reajuste salarial e, neste ano, o percentual baixou para 36,4%. A maioria das negociações firmadas em 2020 trouxe medidas emergenciais relacionadas ao enfrentamento da pandemia, como redução de jornada e de salário.
De acordo com Luís Ribeiro da Costa, pesquisador do Dieese, as perspectivas para as negociações ao longo do próximo ano não são animadoras, diante da alta da inflação e das dificuldades na retomada da atividade econômica.