Pequenas empresas que adotaram o Pix ainda aguardam consumidores

Fonte: Folha de S.Paulo
23/11/2020
Tecnologia

Os primeiros dias de uso do Pix, que entrou em operação há uma semana, vêm servindo para pequenos empresários entenderem seu funcionamento e as vantagens do novo sistema de pagamentos instantâneos.

Até agora existem cerca de 2 milhões pessoas jurídicas que têm chave registrada no Pix, de acordo com o Banco Central. Como comparação, no país, existem em torno de 11 milhões de microempreendedores individuais.

Cristina Vieira, analista de serviços financeiros do Sebrae, espera uma adesão significativa dos pequenos negócios nos próximos meses. Segundo ela, uma das principais dúvidas desses empresários é se as tarifas praticadas serão realmente baixas.

“As empresas estão começando entender agora como é o Pix. Isso é normal com um novo meio de pagamento, porque ele é definido pelos nossos hábitos”, diz Breno Santana Lobo, chefe de divisão no departamento de competição e estrutura do mercado financeiro do Banco Central.

Desde o primeiro dia de operação do Pix, na última segunda (16), a loja da marca de malas Sestini de um shopping da zona leste de São Paulo começou a oferecer pagamento com leitura de QR Code —que o consumidor pode escanear usando o aplicativo da instituição em que tem conta.

Outra funcionalidade permite que uma empresa com chave (apelido de identificação da conta) cadastrada realize e receba transferências em poucos segundos, a qualquer hora ou dia da semana.

“As pessoas perguntaram, tiveram curiosidade. Mas o consumidor ainda não entendeu bem como funciona”, diz Roberto Alves dos Santos Junior, 39, dono da franquia. Até quinta (19), nenhuma venda com Pix havia sido feita.

O mesmo ocorreu no restaurante Tan Tan, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Por ora, lá é possível fazer transferência por meio de chave —as maquininhas ainda precisam de atualização para conseguir gerar QR Codes.

O chef e dono Thiago Bañares, 37, acredita que vai levar algum tempo para que haja aderência. “A pessoa vai experimentar quando vir a mesa ao lado usando”, diz.

Algumas estratégias, como oferecer brindes e descontos, podem ser usadas para estimular o consumidor a experimentar o meio de pagamento, diz Cristina Vieira, do Sebrae.

Outra alternativa é adotar o desconto de forma rotineira: como o Pix permite que o dinheiro chegue à conta em poucos segundos, o empresário pode oferecer abatimento ao cliente que der preferência a esse meio, como já é feito no caso de pagamentos à vista.

“O empresário vai regular o uso de acordo com a situação do negócio. Se ele tiver um estoque alto, pode fazer uma promoção para pagamento com Pix. É uma forma de trabalhar esse recurso para ter caixa mais rápido”, diz Ricardo Rocha, professor do MBA de gestão empresarial da FIA (Fundação Instituto de Administração).

As transações de empresas feitas por Pix estão sujeitas a tarifas, mas alguns bancos estão oferecendo isenções em um primeiro momento. Antes de passar a ser cobrado, o cliente precisa ser informado com 30 dias de antecedência.

A recomendação para quem vai começar a usar a modalidade é pesquisar condições e comparar tarifas, inclusive nas instituições com as quais o empresário não tem relacionamento, diz Vieira.

Cada uma pode definir o quanto vai cobrar. Mesmo assim, a expectativa é que as tarifas sejam competitivas, pelo alto grau de concorrência entre os participantes que podem oferecer o serviço, afirma Rocha, da FIA.

A Block Selantes, fabricante de produto que previne furos em pneus, recebeu do banco gratuidade nas transações com Pix. Ainda não há previsão de quanto ela deve durar, diz Diego Jardim, 34, sócio.

A marca, que tem escritório em São Paulo, foi escolhida para participar do período de testes de duas semanas feito pelo Banco Central.

Como a empresa não vende direto ao consumidor final, a função mais usada foi o envio de recursos com a chave Pix, em substituição a transferências e boletos. Essa opção foi usada em 30% das operações de pagamentos do mês, o que gerou uma economia de R$ 300, afirma Diego.

A ideia da empresa é expandir o uso à medida que parceiros aderirem ao Pix. “Fez muito sentido para a gente. É um dinheiro que pode amenizar outras contas. Mas, se a instituição mudar a política de preços, vamos estudar para ver se vale a pena.”

TIRE AS DÚVIDAS SOBRE COMO FUNCIONA O SISTEMA

Posso pagar tarifas ao usá-lo no meu negócio?
Sim. Há isenção para pessoas físicas ao enviar e receber recursos —exceto se for um de pagamento pela venda de produto ou serviço ou se o usuário preferir o canal presencial ou o telefone para a transação. Já as empresas estão sujeitas a tarifas, que podem variar segundo a instituição financeira ou de pagamento. É importante buscar as melhores condições

Como funciona para quem é MEI?
O microempreendedor individual segue as regras da pessoa física e pode ser tarifado se adotar o Pix para fins comerciais ao receber transações. Os critérios que configuram a atividade comercial são receber recursos por um QR Code dinâmico ou mais de 30 transações com Pix no mês por conta (QR Code estático, chave Pix ou inserção manual dos dados)

Qual a diferença entre o QR Code estático e o dinâmico?
O estático é recomendado para recebimentos mais simples e funciona bem para pessoas físicas, profissionais liberais e micro e pequenas empresas. Já o QR Code dinâmico permite uma configuração por parte do recebedor e tem mais funcionalidades. Por exemplo, pode ser integrado a sistemas de pagamento e a automatização de processos

Como emitir QR Codes e receber pagamentos?
Eles podem ser gerados pela instituição financeira ou de pagamento na qual o empresário tem conta, disponibilizados em papel ou em meio eletrônico. Sistemas de maquinhas também oferecem o serviço. Além do código, outra funcionalidade do Pix permite a uma empresa com chave cadastrada realizar e receber transferência de recursos em poucos segundos

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