O futuro do mercado de seguros passa pelo Open Insurance. O novo conceito de serviços, que vem sendo discutido em vários países incluindo o Brasil, combina bases de dados e envolve a troca de informações entre diferentes plataformas tecnológicas, de seguradoras, bancos e start ups, possibilitando a criação de mais comodidade e novos produtos para os clientes, bem como novos modelos de negócios no mercado de seguros.
Inspirados no modelo de open banking e no mercado de economia compartilhada (Uber, iFood etc.), os padrões de uso do Open Insurance abrangem toda a cadeia de valor do seguro, desde os canais de distribuição de apólices até o desenvolvimento de -serviços específicos. Por exemplo, você tem um seguro viagem e seu voo é cancelado. Porque você precisaria preencher um formulário e abrir o sinistro, já que a seguradora pode obter informações em tempo real da companhia aérea e contatá-lo imediatamente, desde que o voo seja informado no momento da adesão?
No Reino Unido, União Europeia, Índia e Singapura; onde o open banking já é reconhecidamente importante pelos seus órgãos reguladores, o Open Insurance é uma expansão natural e inevitável. O Brasil também segue pelo mesmo caminho, convergindo os dois sistemas para um modelo horizontal interconectado. Um exemplo disso são empresas como a Tecban, rede de terminais bancários (ATM), e a Bolsa do Brasil (B3), voltadas para infraestrutura financeira, já se posicionando como prestadoras de serviços de Open Insurance para seguradoras.
A mudança é grande. Parte de um mercado relativamente estático e verticalizado para um modelo de “ecossistema” com serviços oferecidos a partir do compartilhamento de dados entre todas as empresas devidamente habilitadas junto ao órgão regulador, que poderão ser seguradoras, corretoras ou empresas de tecnologias. A partir do amadurecimento deste novo formato, com adesão massiva dos consumidores, espera-se uma alteração na dinâmica de concorrência do mercado, onde os vencedores serão aqueles com maior capacidade de trabalhar o uso dos dados disponíveis para desenvolver melhores produtos e experiências aos clientes. Entre especialistas do setor, a transformação é vista como disruptiva e até polêmica. Mas é certo que favorecerá, sobretudo, consumidores finais (pessoa física), pequenas e médias empresas (PME).
Em termos regulatórios, o open insurance está em sua primeira fase no Brasil. Desde dezembro último, as instituições participantes podem compartilhar dados sobre canais de atendimento e produtos de seguro, previdência complementar e capitalização disponíveis no mercado. Entre junho e julho de 2022, as empresas começam a compartilhar os dados pessoais dos clientes, como histórico de pagamento, informações sobre apólices e sinistros, entre outros.
No fim do ano, a terceira e última etapa desse processo é a efetivação dos serviços, com a entrada de uma nova figura no mercado de seguros: as Sociedades Iniciadoras de Serviços de Seguros (SISS). Serão como uma third party provider (TTP) de tecnologia, autorizadas pela Susep (Superintendência de Seguros Privados) a armazenar dados cadastrais e históricos dos clientes, cruzando-os com produtos e serviços.
A SISS poderá contratar, realizar endossos e avisos de sinistros, além de oferecer serviços de agregação de dados, painéis de informação e controle (dashboards) e, como representantes do segurado, compartilhar serviços por ele consentidos sem deter em momento algum os recursos pagos pelo cliente. Será possível conhecer melhor o cliente e então realizar o match ideal com o que há disponível no mercado.
Os principais benefícios desse processo serão o empoderamento do consumidor, que terá mais comodidade para comparar, consumir e usar as proteções do seguro; o aumento no número de segurados; e a integração com o open banking, gerando mais concorrência e novos canais de distribuição (super-apps). Confira abaixo alguns desdobramentos esperados:
1) Intensificação da mudança no papel das seguradoras: De pagadora de sinistros à também provedora de serviços de prevenção ao risco;
2) Uso de novas tecnologias em maior escala no mercado de seguros;
3) Configuração de nova figura jurídica no setor de seguros: SISS (Sociedade Iniciadora de Serviço de Seguro), análogo ao PISP (Payment Initiation Service Provider) no mercado de meios de pagamentos;
4) Entrada de Big Techs no setor, como já vem acontecendo em países desenvolvidos.
Tudo isso combinado, possui um amplo potencial de mudar a cultura de consumo de seguros no Brasil. Teremos mais brasileiros se protegendo e também buscando proteção para seus bens e famílias. É a oportunidade para ampliar fortemente o cunho social da indústria de seguros e, consequentemente, aumentar sua participação no PIB brasileiro.