O reajuste na bandeira tarifária cobrada para bancar as térmicas terá um impacto médio de 8,12% na conta de luz em junho, calcula a FGV (Fundação Getúlio Vargas). A alta neste índice pressionará a inflação do mês em 0,36 pontos percentuais.
O cálculo foi feito pelo economista André Braz, responsável pela elaboração dos índices de inflação medidos pela FGV, e considera o aumento de 52% na tarifa da bandeira vermelha nível 2, que passará de R$ 6,24 para R$ 9,49 por kWh (quilowatt-hora).
A elevação tem por objetivo arrecadar mais recursos para enfrentar a crise hídrica, que levou o governo a acionar todo o parque térmico disponível, independente do preço de geração de energia. Além disso, sinaliza ao consumidor a necessidade de economizar eletricidade.
Com a escassez de água nos reservatórios das hidrelétricas a tendência é que o brasileiro continue pagando a bandeira vermelha durante o período seco, que vai até o início da primavera. Assim, a energia se manterá como um fator de pressão inflacionária.
Braz diz que o impacto direto na inflação pode ser temporário, já que a tendência é que a taxa seja retirada no fim do ano, quando as chuvas começarem a cair sobre os reservatórios. Mas lembra que o custo da energia tem efeito indireto sobre a inflação de outros produtos.
"Sempre que a energia aumenta, aumenta o custo de produção de vários segmentos", frisa. "Então, esses impactos não seriam tão temporários, vão ser mais persistentes e isso pode, sim, criar uma pressão inflacionária maior para esse ano."
Em maio, com a adoção da bandeira vermelha nível 2, a energia já foi o principal fator de pressão no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação, que fechou o mês em 0,83% no país, após variação de 0,31% em abril.
Foi o maior resultado para maio desde 1996 (1,22%). No acumulado de 12 meses até maio, a inflação chegou a 8,06%, bem acima do teto da meta para o ano, de 5,25%.
O aumento do valor da bandeira foi decidido nesta terça-feira (29) pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A direção da agência decidiu não seguir orientação da área técnica, que pedia reajuste de 11,5%, deixando a cobertura de parte dos custos adicionais para 2022.
Além de pesar no bolso do consumidor, a elevação dos preços da energia no país em decorrência da crise hídrica pode reduzir o espaço no teto de gastos em 2022, segundo nota informativa do Ministério da Economia divulgada nesta terça.
De acordo com análise feita pela Secretaria de Política Econômica, o atual cenário de risco hidrológico pode exigir novas elevações de preços de energia —com um efeito direto na inflação usada para calcular o reajuste de despesas previdenciárias e itens como o BPC (benefício de prestação continuada).
Nesta segunda-feira (28), o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) fez um pronunciamento em rede nacional de TV pedindo que a população poupe energia e água para enfrentar a crise hídrica.