Novas tendências de consumo estão surgindo com a reabertura do comércio, a volta às atividades presenciais e até mesmo os traumas causados pela pandemia.
Algumas áreas já começam a reaquecer, como vestuário, calçados e acessórios de moda. Os consumidores querem novas roupas para sair às ruas e ir ao trabalho.
Segundo Dario Caldas, diretor do birô de tendências Observatório de Sinais, a projeção é de crescimento em razão da demanda reprimida. “As pessoas passaram muito tempo sem investir nisso, sentem falta”, afirma.
Roupas esportivas também estão no radar. “Há mais procura por atividades ao ar livre, e o boom do ‘outdoor’ impacta tanto o mercado de moda quanto o de decoração”, afirma Liliah Angelini, especialista da WGSN, empresa internacional de tendências.
Segundo Caldas, há um movimento muito forte em direção à tendência “ecossexy”—sensual sem perder a sustentabilidade, ele explica.
Na mesma linha do vestuário, o desejo de se arrumar impulsiona o setor de cuidados pessoais. “Não é só saúde, mas aparência mesmo. Muita gente deixou de ir a cabeleireiro, fazer depilação, tratamento estético, e quer tirar o atraso”, afirma Caldas.
Uma das principais previsões globais é o crescimento do mercado de beleza masculino, não só de cuidados com a pele, mas também de maquiagem voltada a esse público, diz Angelini, que aponta um maior interesse em produtos e tratamentos individualizados.
Na área de design de interiores, também cresce a procura por produtos que permitam personalização —por exemplo, puxadores, tampos e revestimentos. Há ainda a busca por profissionais e assessorias que ajudam dar um toque mais pessoal aos móveis e objetos de decoração produzidos em larga escala.
O mercado fitness é promissor. “Sejam academias de ginástica, sejam equipamentos ou suplementos alimentares, tudo o que atende demandas de bem-estar e saúde mostra uma retomada acima da média”, afirma César Rissete, gerente de competitividade do Sebrae nacional.
Saúde ainda é o principal desejo no fim de ano que se aproxima —uma saúde total, segundo Caldas. A procura por serviços de apoio ao equilíbrio mental, consultas com terapeutas e aplicativos para relaxar ou dormir melhor aumentou na pandemia e vai continuar por décadas, de acordo com o especialista.
Outra frente em rápida expansão é a de produtos e serviços voltados ao bem-estar feminino e a saúde sexual da mulher, aponta Angelini.
Também continua forte a busca por uma alimentação saudável. “Quem trabalha com comida tem que se preocupar em mostrar ao consumidor tanto a sustentabilidade do produto quanto seus benefícios à saúde”, diz Rissete.
A demanda por produtos veganos não para de aumentar. “Está muito acelerada e envolve alimentos, cosméticos, roupas, calçados. ‘Vegan tudo’ é o nome dessa tendência”, conta Caldas.
As áreas de lazer e entretenimento devem se recuperar. “Pressupondo que se mantenham o ritmo de vacinação e os protocolos de saúde, o setor vai se beneficiar. O consumidor deve procurar muito espaços de convívio social, entretenimento e arte, como casas de shows, galerias, teatros”, diz Rissete.
Como reação às restrições dos últimos dois anos, o movimento deve voltar aos bares, cafés, restaurantes e casas noturnas com eventos presenciais. “Tudo indica que no ano que vem essa roda vai começar a girar de novo”, diz Caldas.
O setor de viagens já vem dando sinais de reaquecimento. “O segmento doméstico está em crescimento. É uma boa oportunidade para retomar o turismo nacional, particularmente nos locais na natureza. Os destinos de sol e praia têm sido muito citados pelos consumidores”, afirma Rissete.
Num primeiro momento, os viajantes vão procurar alguma segurança e evitar o turismo de massa, avalia Caldas. “Há uma busca por hotéis do tipo refúgio, em lugares mais isolados ou inusitados, que dão uma ideia de fuga.”
A ideia é fugir, mas sem deixar de planejar o futuro. Os serviços financeiros na área de investimento estão crescendo. “As pessoas estão procurando muito assessorias para saber como fazer planejamento econômico e aplicar melhor seu dinheiro”, diz Caldas.
“O que vemos é uma digitalização e democratização de serviços que antes eram mais focalizados em determinados grupos”, afirma Livia Fioretti, da empresa de tendências Trendwatching.
“Esperamos a digitalização ainda maior de produtos financeiros, de educação, saúde e serviços gerais. Também vemos uma renovação de serviços associados a conveniência [como delivery e compras pela internet], que devem ser mais democratizados”, completa a especialista.
O mercado pet, que passou praticamente ileso pela pandemia, ainda tem espaço para crescer. “O setor de acessórios e produtos premium para animais de estimação está superaquecido. Há nichos para explorar, como kits de passeio, hotelaria de luxo e assessoria de viagens com pets”, afirma Angelini.
Transversal a todas os setores, a sustentabilidade, que já vinha se afirmando, é uma das áreas para qual os analistas de tendência chamam a atenção. “A sustentabilidade tem crescido como elemento importante graças ao aumento de ofertas que abordam esse espectro e também a uma maior conscientização da população em termos do cuidado ecológico e social”, diz Fioretti.
Além de ser uma preocupação para todos os setores, a sustentabilidade é também um segmento de mercado, diz Caldas. Há oportunidades de serviços como assessorias para certificação, logística reversa ou crédito de carbono.
Na opinião de Rissete, as situações traumáticas vividas durante a crise sanitária valorizaram ainda mais a questão. “Hoje, independentemente do setor, práticas sustentáveis são fundamentais para quem quer se manter no mercado”, afirma ele.