Loja física ou virtual? Nos últimos tempos, um dos principais dilemas dos lojistas é decidir qual desses canais deve receber mais atenção para o negócio prosperar.
Com a expansão do e-commerce, especialmente agora, muitos varejistas optaram por abandonar de vez o comércio convencional e apostar todas as fichas na venda on-line.
Levantamento realizado pela empresa de consultoria IEMI revela que, pelo menos no setor de vestuário, os comerciantes ainda têm muito para explorar fora da internet.
Cerca de 20% dos 5.570 municípios do país, ou 1.153, com até 50 mil habitantes, não possuem sequer uma única loja de roupas cadastrada.
Para chegar a esse número, a IEMI se baseou em dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) e da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Anualmente, todas as empresas ativas, classificadas de acordo com as suas atividades, são obrigadas a fornecer dados sociais para o governo.
Até o final de 2019, último levantamento divulgado da RAIS, não havia informações de lojas de roupas em 1.153 municípios do país.
É provável que, em alguns desses locais, haja lojas de roupas operando com CNAE de outra atividade, e que também haja comerciantes trabalhando na informalidade.
Mas, para Marcelo Prado, sócio-diretor da IEMI, o número não deve ser muito diferente e, com a pandemia, deve ter até mais cidades sem lojas de roupas no país.
Esses 1.153 municípios possuem, juntos, uma população de pouco de mais de 2 milhões de pessoas, com um potencial de consumo anual de roupas de R$ 3 bilhões.
“Esses dados mostram que o varejo tem muito para crescer no Brasil, especialmente no caso de pequenas cidades”, afirma Prado.
De acordo com o levantamento, somente no Estado de São Paulo, há 67 municípios sem lojas de roupas cadastradas, considerando sempre o CNAE.
Em Minas Gerais, existem 132 cidades, na Bahia, 80, no Rio Grande do Sul, 65, no Ceará, 51, em Santa Catarina, 19, por exemplo.
Em São Paulo, aparecem cidades como Monte Alegre do Sul, com 8 mil habitantes, Dobrada, com 9 mil habitantes, e Lavrinhas, com 7,3 mil habitantes.
Na Bahia, há cidades até maiores, como Novo Oriente, com 29 mil habitantes, e Marco, com 28 mil habitantes.
O setor de vestuário foi um dos que mais sofreram com a pandemia do novo coronavírus, o que sugere um aumento na informalidade nesta atividade.
De acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio), o comércio de vestuário deixou de vender pouco mais de R$ 50 bilhões de fevereiro de 2020 a maio de 2021.
Por mês, o varejo de vestuário deixou de faturar cerca de R$ 3,37 bilhões, em média, desde o início da pandemia.
Como base de comparação, em fevereiro de 2020, o setor de vestuário vendeu R$ 13 bilhões, de acordo com a CNC.
Fábio Bentes, economista da CNC, lembra que lojas sem vínculo empregatício, isto é, que não têm empregados com registro, não são identificadas pela RAIS.
Os lojistas que estão dispostos a desbravar cidades pequenas, de acordo com Bentes, precisam, portanto, estudar muito bem os locais antes de fechar negócio.
“Pode ter município que não possui loja de roupa cadastrada no CNAE, mas é um local com muitas famílias vendendo peças de vestuário em casa”, diz Bentes.
O mesmo levantamento do IEMI identificou que 17 cidades, com mais de 1 milhão de habitantes, participam com 33,5% do potencial de consumo de vestuário no país, da ordem de R$ 64,8 bilhões.
Outras 32 cidades, com população de 500 mil a 999 mil habitantes, participam com 12,9%, com potencial de consumo de R$ 25 bilhões.
Cidades com até 50 mil habitantes, com lojas, isto é, 3.740 municípios, têm 17,2% de participação no consumo de roupas do país, o que corresponde a R$ 33,3 bilhões.
O IEMI também fez o levantamento no setor de móveis e identificou um cenário parecido: 1.128 municípios sem lojas de móveis no país.
Essas cidades possuem, juntas, uma população de quase 8 milhões de pessoas, com potencial de consumo de móveis de R$ 1,7 bilhão por ano.