Sete em cada dez consumidores brasileiros têm adiado compras de bens ou serviços por causa da pandemia, de acordo com sondagem especial realizada pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) em abril. O percentual é superior aos 62% registrados na pesquisa de outubro do ano passado.
Questionados sobre os motivos para o adiamento, 50% afirmam que está relacionado à piora na questão sanitária e 38% citam a perda de renda com medidas mais restritivas.
Na comparação com a pesquisa anterior, subiu o percentual daqueles que estão poupando por precaução (de 32% para 37%) e dos que estão com medo do desemprego (de 20% para 26%).
Praticamente dobrou o percentual dos que citam o fim das reservas de poupança (de 11% para 23%) e a dificuldade de obter emprego (de 12% para 22%). Também cresceu o percentual dos que afirmam que não conseguem pagar seus gastos correntes (de 9% para 15%).
Foram consultados, por telefone, 1.631 consumidores, de 1º a 28 de abril.
A maior parcela dos que estão adiando compras de bens e serviços continua sendo a dos consumidores de renda mais baixa. Os de renda mais alta, por outro lado, são os que mais estão poupando, segundo Viviane Seda Bittencourt, superintendente-adjunta de Ciclos Econômicos do FGV Ibre.
“Os consumidores que têm uma margem maior para consumir, estão esperando o momento mais propício para usar esses recursos, estão guardando de forma precaucional. Os que têm menor margem estão endividados, com dificuldade de obter emprego. Isso dificulta a recuperação econômica”, afirma Viviane.
Pesquisa Datafolha realizada nos dias 11 e 12 de maio mostrou que quase nove entre cada dez brasileiros avaliam que o valor do novo auxílio emergencial pago pelo governo federal é insuficiente e que vai faltar dinheiro para sobreviver.
Viviane afirma que o Ibre tem se reunido com instituições de pesquisa de outros países que têm encontrado resultados semelhantes em suas sondagens.
Um ponto em comum é o aumento na poupança dos consumidores durante a pandemia, exceto em países muito pobres, como África do Sul, e a afirmação de que o consumo de serviços só será retomado de fato quando as pessoas passarem a se sentir seguras após a vacinação.
“A única solução visível para as empresas está sendo a velocidade da vacinação, para que os consumidores voltem a consumir normalmente e a demanda retome”, afirma a economista.