A pandemia acelerou os negócios de start-ups que propõem novas formas de consumo, como as lojas autônomas. Em um mundo com menos toques e aglomerações, esse tipo de iniciativa ganha espaço em condomínios, empresas e clubes.
Os modelos trazem semelhanças com o de lojas como a Amazon Go, da Amazon. Nelas, os consumidores fazem todo o processo de compra com o aplicativo da empresa, sem a necessidade de contato físico com funcionários.
Um dos principais obstáculos ainda é vencer a desconfiança do consumidor em relação ao modelo, mas os novos hábitos na pandemia contribuem para mudar a percepção. A previsão das empresas é de crescimento este ano, com atração de novos investidores.
A pandemia acelerou a expansão da Onii, empresa criada em 2018, que desenvolveu uma tecnologia que permite transformar qualquer estabelecimento em autônomo. Para usar o serviço, o consumidor precisa baixar o aplicativo da loja que deseja usar e fazer cadastro. Assim, ele pode ver os serviços ofertados pela Onii em um raio de 1,5 quilômetro.
As lojas são operadas por licenciados, que pagam uma quantia a depender do serviço, que vai desde a transformação de uma loja existente até a aquisição de uma nova. O licenciado escolhe que produto pretende vender.
— Nosso negócio é a tecnologia. Compilamos várias aplicações em um único app, que permite fazer o gerenciamento da loja, desde a chave de entrada, leitura de código de barra, pagamento, emissão de nota fiscal eletrônica — afirma o sócio-fundador, Tom Ricceti.
Preconceito do síndico
Em 2019, a Onii previa ter cem lojas em três anos. Hoje, são mais de 200, e a meta é chegar a 500 até o fim do ano, com previsão de expansão para países como Chile, Portugal e Espanha.
Na Market4u, a pandemia ajudou a vencer resistências em ambientes controlados, como condomínios, empresas e clubes para a instalação de mercados autônomos.
A start-up foi inaugurada em fevereiro do ano passado, pouco antes do início da pandemia. Hoje são mais de 200 mil usuários, em 1280 lojas, das quais 300 são unidades próprias e o restante, franquias. A cada mês são abertas, em média, cem novas unidades.
O custo inicial para adquirir cinco unidades, mínimo necessário para entrar no negócio, é R$ 100 mil.
— Tinha muito preconceito com os síndicos. Mas a pandemia trouxe esse senso de urgência. Somos uma opção de compra segura para os moradores. Crescemos em um ano o que esperávamos crescer em cinco — disse Eduardo Cordova, CEO da Market4u.
O funcionamento é por aplicativo. Após o cadastro, o usuário pode escanear o código de barra e pagar o produto pela plataforma.
A publicitária Priscilla Preks, de 34 anos, se tornou cliente do mercado instalado em seu condomínio. Segundo ela, os preços são um pouco maiores do que o dos mercados, mas há promoções.
— Vou lá quando quero comprar algo diferente ou quando falta um ingrediente para alguma receita. Nesse ponto é muito prático, pois você não vai ao mercado para comprar só um item — conta a moradora de Curitiba, que tem gasto mensal de R$ 50.
Segundo Cordova, as lojas são 20% mais caras que o varejo tradicional e 30% mais baratas que as lojas de conveniências, as principais concorrentes.
O Market4u tem a meta de atingir seis mil lojas em 2021. No ano passado, o faturamento foi de R$ 20 milhões. Uma rodada de investimento deve ser concluída até setembro.
Depois de começar em 2016 como um aplicativo de delivery, a Zaitt optou pelo modelo autônomo. A primeira loja com o perfil surgiu em 2019, no Espírito Santo. Hoje são cinco em operação, e há previsão de abrir mais dez espaços até o fim do ano. Diferentemente das rivais, a Zaitt opera apenas com lojas de rua, no momento. O custo para o interessado na franquia é de R$ 200 mil a unidade.
Adoção leva um tempo
Para usar o serviço, é preciso baixar o app e se cadastrar. Ao entrar, o cliente escaneia um QR Code e faz o mesmo com os produtos escolhidos. O pagamento é por cartão de crédito no app. Quando confirmado, a porta de saída se abre. E há possibilidade de usar serviço de delivery. O crescimento esperado este ano é de 20%.
A empresa faz parcerias com marcas como Ambev e Unilever para a oferta de produtos.
— Nosso negócio é mais ligado à conveniência. Com a pandemia, apesar de ter menos gente circulando na rua, somos uma opção de compra segura — disse Rodrigo Miranda, CEO da Zaitt.
Para os sócios do OasisLabb, ecossistema de inovação especializado em varejo, Alejandro Padron e Helio Biagi, essas inovações ainda vão demorar para se popularizarem.
— A adoção toma um tempo. Elas ainda são relativamente caras e no caso brasileiro, a mão de obra é mais barata, se comparada ao exterior, facilitando a preferência pelo modo não autônomo na hora de investir. Os consumidores tendem a se acostumar com novidades, mas isso demanda um tempo — afirmou Padron.