Embora ainda desconhecido pela maioria dos pequenos empresários, o open banking tem o potencial de resolver um de seus maiores problemas: a dificuldade de conseguir empréstimos.
A iniciativa do Banco Central não é um novo produto ou funcionalidade, como o Pix, mas um conjunto de regras e tecnologias que permitirá que as instituições financeiras compartilhem dados de forma automática e padronizada entre si. Essas informações podem ser tanto de produtos e serviços quanto dos clientes —quando há autorização expressa por parte deles.
Hoje, quando um empreendedor busca crédito junto a um banco, deve cumprir uma série de requisitos: manter uma conta na instituição por um tempo mínimo (6 ou 12 meses, por exemplo), oferecer garantias (imóveis, veículos ou equipamentos), movimentar valores acima de determinado patamar etc.
“O mercado funciona assim: eu, banco, tenho informações sobre uma empresa e, com base nisso, decido se ela será ou não uma boa pagadora, se vou conceder o crédito, qual taxa de juros vou cobrar. A grande questão é que, quando eu não conheço o histórico desse negócio, é muito difícil ter subsídios para tomar essas decisões”, afirma Leonardo Enrique, líder de open banking da Serasa Experian.
Segundo ele, os pequenos negócios muitas vezes são mal avaliados quanto à sua capacidade de pagamento. “Uma empresa que não pagou uma conta de internet de R$ 200 é considerada inadimplente, mesmo se ela tiver um fluxo de caixa robusto e o atraso nesse pagamento tiver sido causado por um descuido.”
Esse cenário deve mudar quando o empresário puder mostrar os dados de seu relacionamento bancário a qualquer instituição financeira de sua escolha. O open banking permitirá que o cliente compartilhe informações, como o extrato bancário com todas as movimentações dos últimos meses, faturamento, saldo em conta corrente e serviços que utiliza (máquina de cartão e antecipação de recebíveis, por exemplo).
“Uma instituição financeira vai poder olhar para os dados e pensar: ‘Essa empresa tem uma movimentação interessante, seria uma boa cliente. Vou fazer uma oferta de crédito melhor do que a que ela tem hoje’”, diz Adalberto Luiz, analista de capitalização e serviços financeiros do Sebrae.
Na opinião dele, esse aumento da concorrência entre os bancos e financeiras viabilizado pelo open banking vai reduzir os custos dos serviços. “Para as micro e pequenas empresas, isso vai ser muito importante. Elas pagam, em média, o dobro do que é cobrado das grandes pelos mesmos serviços financeiros”, diz.
“As grandes companhias têm um volume de negócios alto, por isso os produtos ofertados para elas já estão nas melhores condições possíveis, já que ninguém quer perder esses clientes”, completa.
Mas, ao mesmo tempo que será mais fácil identificar as empresas boas pagadoras, também será mais fácil saber quais têm maior risco de não honrar pagamentos.
Enrique, no entanto, não considera que haverá uma piora no acesso ao crédito de forma generalizada. “Nos países que adotaram o open banking, vimos um crescimento da concessão de crédito, justamente porque é um modelo de negócio novo. Aqui, os cinco maiores bancos detêm 80% do mercado, e eles não trabalham com alto risco”, diz ele.
O open banking também permitirá que os dados sejam compartilhados com empresas que não são instituições financeiras, mas que fornecem serviços nessa área. Um exemplo são os comparadores de tarifas bancárias, que funcionam de forma similar às plataformas de busca de passagens aéreas. A partir dos dados compartilhados, eles poderão pesquisar as melhores ofertas de empréstimos disponíveis no mercado de acordo com o perfil da empresa que busca o crédito.
O Banco Central adiou a implementação da segunda fase do open banking, que prevê o compartilhamento de dados do usuário, para o dia 13 de agosto, data em que todas as instituições participantes deverão ter concluído as adaptações necessárias ao funcionamento da tecnologia.
Para Enrique, a mudança no mercado não deve ocorrer de imediato, já que os bancos levarão um tempo para processar esses dados e aplicá-los às ofertas de produtos e serviços.
A terceira fase do open banking, com início previsto para 30 de agosto, também impulsionará os pequenos negócios, afirma Luiz, do Sebrae.
A partir dessa data, entram em cena os iniciadores de pagamentos, que são empresas reguladas pelo Banco Central que poderão fazer transferências bancárias e pagamentos online a pedido do cliente.
Hoje, por exemplo, quando um consumidor faz uma compra em um site, ele tem que fornecer os dados de seu cartão de crédito ou débito, ou emitir um boleto para pagar.
Com o open banking, a própria loja poderá conectá-lo a um iniciador de pagamento, que realizará um Pix a partir da conta bancária desse cliente —sem que ele tenha que acessar o aplicativo do banco.
A novidade vai ampliar as possibilidades de pagamento online e torná-las mais seguras, o que pode aumentar as vendas por aplicativos de mensagens e pela internet, diz Luiz. “Essa lógica simplificada de pagamentos tem custo menor para o empresário. Esse impacto é sempre mais expressivo para os pequenos negócios do que para as grandes empresas.”