À frente de desafios históricos como finanças e burocracia, a gestão de pessoas é a principal preocupação dos empresários brasileiros. Eles têm dificuldades para lidar com a legislação trabalhista, desenvolver líderes, contratar novos funcionários, capacitar equipes e, até mesmo, fixar planos de cargos e salários. Esses problemas dificultam a retenção de talentos e podem impactar no crescimento da empresa.
A conclusão está presente em estudo da Endeavor – organização mundial de fomento ao empreendedorismo – feito no Brasil e divulgado em julho. A instituição ouviu cerca de mil empresários sobre como a crise afeta os seus negócios e quais são as tarefas que causam mais preocupações.
A gestão de pessoas ficou na frente com nota 6,7 em uma escala de 0 a 10. “Até os anos 80, a grande tônica era o financeiro. Nos anos 90, mercado e marketing. A partir dos anos 2000, a gestão de pessoas e a liderança se tornaram os principais desafios para as organizações”, explica o professor Anderson Sant’anna, coordenador do Núcleo de Desenvolvimento de Pessoas e Liderança da Fundação Dom Cabral (FDC).
Para ele, isso acontece por causa da mudança do padrão competitivo. Antes, as empresas focavam somente no operacional, ou seja, em estabelecer procedimentos e processos para cumprir seus objetivos. Isso, segundo o especialista, demandava um estilo de gestão de pessoas voltado para a padronização. A função dos líderes era acompanhar se metas estavam sendo cumpridas.
Com a mudança do próprio mercado, as empresas tiveram de ficar mais flexíveis. “Empresas têm que inovar, agregar valor, flexibilizar e isso depende de competências humanas e demanda novos estilos de liderança”, afirma Sant’Anna. “São adaptações que as empresas precisam fazer devido ao novo padrão de competitividade”, completa.
Menos operação, mais gestão
A dificuldade está em mudar o padrão mental presente nas organizações, principalmente em setores tradicionais da economia, e em desenvolver pessoas para liderar nesse novo cenário.
O gerente do escritório de Curitiba da Michael Page, Humberto Wahrhaftig, destaca que o foco somente na operação em detrimento à gestão e à inovação pode comprometer os resultados da empresa. “O problema é quando os líderes estão presentes na operação. Se a pessoa está totalmente imersa na operação, ela não consegue olhar estrategicamente.”
Uma má gestão de pessoas pode afetar o crescimento da empresa. “Se o ambiente não for bom, o funcionário vai embora e você não vai ter bons profissionais para ter um bom produto para ofertar. A conexão com o resultado é direto”, afirma Sant’Anna.
Wahrhaftig ressalta, porém, que o impacto pode vir somente no longo prazo. “A empresa pode estar faturando bem e estar com problemas de gestão de pessoas. Os resultados do faturamento e da gestão de pessoas estão bastante ligados, mas em médio e longo prazo.”