O comércio brasileiro perdeu 190,7 mil empresas no intervalo de seis anos, indicam dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado, divulgado nesta quinta-feira (29), integra a PAC (Pesquisa Anual de Comércio) 2019. O estudo não reflete ainda os impactos da pandemia de coronavírus, que prejudicou a atividade econômica a partir de 2020.
Conforme o levantamento, o número de empresas do setor era de 1,625 milhão em 2013. O montante passou a encolher em 2014, quando a economia começou a registrar sinais de fragilidade. Houve seis quedas consecutivas até o total recuar para 1,434 milhão em 2019 —dado mais recente à disposição.
A perda de 190,7 mil operações (baixa de 11,7%) vem da comparação entre os resultados de 2019 e 2013.
Synthia Santana, gerente de análise e disseminação de pesquisas estruturais do IBGE, associa a redução do número de empresas a pelo menos dois fatores. O primeiro é a crise vivida pelo país entre 2014 e 2016. À época, a economia perdeu fôlego e, em seguida, entrou em recessão.
Além disso, a retomada do consumo, necessário para o comércio, ocorreu em ritmo aquém do esperado nos anos seguintes, o que também afetou o setor, sinaliza a pesquisadora.
“Com a crise a partir de 2014, empresas fecharam operações, e a recuperação do consumo se deu de maneira muito lenta”, explica.
Conforme Synthia, a pesquisa desconsidera a categoria dos MEIs (microempreendedores individuais). Esse grupo, que aumentou nos últimos anos, foi criado em uma tentativa de incentivar a formalização e possui limitação de faturamento anual.
Em 2019, as empresas comerciais empregavam 10,2 milhões de pessoas. Na década de 2010 a 2019, aumentaram ligeiramente de porte (de seis para sete pessoas por empresa), bem como aumentaram o salário médio pago, medido em salários mínimos (de 1,8 para 1,9 salários mínimos).
Entre os três setores pesquisados no comércio, dois tiveram baixa no número de empresas entre 2013 e 2019. O comércio varejista, mais volumoso, perdeu 194,3 mil operações, passando de 1,287 milhão para 1,093 milhão.
O comércio de veículos, peças e motocicletas também encolheu no período. Houve redução de 2,5 mil empresas. O número de negócios caiu de 142 mil para 139,5 mil entre 2013 e 2019.
O único segmento com alta no número de empresas foi o comércio por atacado. Esse ramo teve acréscimo de 6,1 mil negócios. Segundo o IBGE, o total subiu de cerca de 196 mil para 202 mil.
Na visão de Synthia, o atacado foi beneficiado por vendas para o mercado externo no período. Ou seja, as vendas internacionais teriam compensado as dificuldades do cenário doméstico.
“Os números mostram o retrato do comércio antes da pandemia. Vamos precisar de alguns pontos para reconstruir os setores”, diz Synthia.
Antes de apresentar os dados do comércio, o IBGE divulgou no dia 21 os números de outro grande setor da economia nacional, a indústria. As estatísticas das fábricas apontaram cenário semelhante ao do segmento comercial.
É que, em 2019, o número de empresas industriais caiu pelo sexto ano consecutivo, para 306,3 mil. Na comparação com 2013, as fábricas perderam 28,6 mil operações. Os dados da indústria integram a PIA (Pesquisa Industrial Anual) 2019.