O comércio brasileiro já deixou de faturar cerca de R$ 240,8 bilhões desde o início da crise da pandemia do novo coronavírus, calculou a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). As perdas se acumulam desde a segunda quinzena de março até o fim de junho.
O pior momento ocorreu em abril, quando o comércio deixou de faturar R$ 77,4 bilhões, depois de já ter perdido R$ 39,3 bilhões em março. Apesar da melhora a partir de maio, o comércio ainda deixou de faturar R$ 69,5 bilhões naquele mês. Em junho, quando começou a flexibilização das medidas de isolamento social nos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, o rombo no faturamento ainda foi de R$ 54,6 bilhões. O cálculo da CNC se refere ao comércio varejista ampliado, que inclui também as atividades de veículos e de material de construção.
O próprio setor tem conseguido reduzir o volume de perdas com estratégias para driblar a queda no consumo presencial. Dados da Receita Federal do Brasil mostram que o volume de vendas no comércio eletrônico cresceu 39% em maio deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. Em junho, houve um aumento real de 72% ante o mesmo mês de 2019.
Segundo Fabio Bentes, economista da CNC responsável pelo estudo, o número de notas ficais eletrônicas tinha média diária de aproximadamente 650 mil emissões em fevereiro, alcançando 1,26 milhão de operações em junho. Em junho do ano passado, foram emitidas 520 mil notas diárias, o que significa que houve um avanço de 142% em junho de 2020.
“Isso ajuda a explicar um pouco desse fato de as perdas já estarem sendo menores, além da menor adesão ao isolamento social e o início do processo de flexibilização da quarentena. A flexibilização não afetou os dados de maio, mas seguramente, pelo que a gente mediu, já afetou os dados de junho”, afirmou Bentes.
O índice de isolamento social medido pela consultoria Inloco mantém tendência decrescente no Brasil desde o início de abril, lembrou a CNC. Após alcançar 63% da população na segunda metade de março, o indicador começou o mês de julho com uma média semanal próxima a 40%.
O início do processo de flexibilização da quarentena em diversas regiões do País acelerou essa queda no índice de isolamento social, apontou Bentes. O economista calcula que, sem as medidas de flexibilização, o varejo teria perdido R$ 67,9 bilhões em vendas em junho, R$ 13,3 bilhões a mais do que o observado.
A expectativa é que a abertura gradual dos estabelecimentos comerciais reduza o tamanho das perdas do comércio nos próximos meses, na comparação com o desempenho no mesmo período do ano anterior. No entanto, a recuperação da atividade comercial ainda dependerá do poder de consumo da população.
“Os estragos provocados sobre o mercado de trabalho, a aversão à oferta e à demanda de crédito e o nível de confiança dos consumidores tenderão a cumprir um papel cada vez mais determinante sobre no ritmo de vendas até o final de 2020”, apontou o estudo da CNC.
A CNC prevê uma retração de 6,3% do volume de vendas do comércio varejista no ano de 2020. O varejo ampliado deve ter um recuo de 9,2%.