Com a paralisação do comércio em grande parte do Brasil, organizações de comerciantes estão discutindo maneiras de diminuir prejuízos durante o período de combate ao novo coronavírus. Uma das alternativas em análise é o adiamento do Dia das Mães, que este ano cai em 10 de maio.
“Nós costumamos dizer que o Dia das Mães é o Natal do primeiro semestre para o varejo. Manter essa data em maio vai causar um prejuízo maior para o setor”, explica Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “Se adiar a data para junho, se contarmos com a sorte, talvez a situação já esteja começando a voltar ao normal e a gente consiga diminuir um pouco essa perda.”
De acordo com dados da própria CNC, o varejo faturou R$ 9,7 bilhões durante do Dia das Mães em 2019. Na época, foram contratados 20,5 mil trabalhadores temporários
Bentes afirma que a grande preocupação com relação a datas comemorativas é a falta de crédito, a insegurança no mercado de trabalho e a baixa confiança do consumidor. “O governo tem anunciado medidas para estimular o crédito, mas os bancos não querem emprestar agora com medo de inadimplência. A confiança do consumidor está diretamente relacionada ao mercado de trabalho. Quanto mais seguro o emprego, maior é a confiança do consumidor, e não há segurança no mercado de trabalho nesse momento.”
A possibilidade de adiamento é apoiada por outras associações de comerciantes, como a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). “Como não temos previsão de eabertura, temos falado com o governo para estudar qual o melhor modelo para que essas datas possam ser mexidas sem prejuízo para o setor”, explica o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun. “Como 50% dos estabelecimentos são lojas de vestuário, há um movimento muito grande no Dia das Mães. Se conseguirmos postergar essa data, vamos pelo menos minimizar o prejuízo para lojas que trabalham com produtos femininos e manter um bom nível de vendas e movimento.”
'Data passou a ser secundária'
A ideia, porém, não é um consenso. O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alfredo Cotait Neto, afirma que a sugestão está sendo avaliada, mas é possível que a mudança não seja mais suficiente para estancar prejuízos, principalmente considerando a ampliação do período de isolamento social para 10 de maio, como anunciou o governo de São Paulo na última sexta-feira, 17.
“No momento, nós precisamos primeiro avaliar qual é o desdobramento desse novo decreto para então determinar o que fazer com o Dia das Mães, se será mantido ou se vai ser mudado. Como você sustenta um negócio parado por 45 dias só com custos e sem receita nenhuma?”, questiona. “A postergação da quarentena é um desastre. Temos que ver quais contrapartidas o governo vai dar. Não há consenso sobre mudar a data e, por enquanto, não existe esse movimento em São Paulo, mas o Dia das Mães passou a ser secundário.”