Cerca de 2% da população adulta brasileira são pessoas transgênero e não binárias – ou seja, se identificam com um gênero diferente daquele que lhes foi atribuído ao nascer ou não se percebem como pertencentes exclusivamente ao gênero feminino ou masculino. É o que revela um levantamento pioneiro feito pela Faculdade de Medicina de Botucatu – FMB da Universidade Estadual Paulista – UNESP publicado na Nature Scientific Reports em 2021.
A pesquisa, inédita no país, revelou que essa população hoje é de 3 milhões de indivíduos. O estudo pretende preencher lacunas envolvendo diversidade sexual e de gênero e oferecer subsídios à elaboração de políticas públicas. A temática da diversidade sexual e de gênero nunca foi contemplada pelos censos realizados no Brasil.
Um estudo realizado em parceria entre o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea – CEDEC e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo foi feito a partir de entrevistas com 1,7 mil mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas não binárias. Na pesquisa, travestis e mulheres trans (70%) constituem a maioria dos entrevistados, majoritariamente solteiros (70%), negros (57%) e com escolaridade até o ensino médio (51%). Desses indivíduos, 58% realizam trabalho informal ou autônomo, de curta duração e sem contrato. Considerando apenas o grupo das travestis, o percentual equivalente sobe para 72%.
Os dados também revelam que muitas pessoas trans costumam abandonar a escola antes de concluir a educação básica devido ao preconceito. Além disso, 88% dos entrevistados fazem tratamentos de terapia hormonal pelo Sistema Único de Saúde – SUS.
Nos últimos cinco anos, instituições de ensino superior também registraram a conclusão de doutorados dos primeiros indivíduos assumidamente transgênero e travestis de sua história. Além disso, essa população começa a lecionar em universidades, caso da pedagoga Letícia Carolina Nascimento, primeira pessoa declaradamente trans a assumir um cargo de docência na Federal do Piauí – UFPI, em 2019.