Pela primeira vez desde fevereiro, o Brasil registrou criação de vagas de emprego com carteira assinada. Foram 131.010 novas vagas em julho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado na sexta-feira.
O saldo positivo é a diferença entre 1.043.650 admissões e 912.640 demissões no mês passado. O resultado de julho quebra a sequência de quatro meses seguidos de perda de vagas de emprego no país.
O mercado de trabalho sofreu bastante com a crise causada pela Covid-19. No acumulado do ano, 1,1 milhão de vagas com carteira assinada foram fechadas.
O mês mais impactado pela crise foi abril, que registrou 927.598 vagas a menos. No decorrer dos meses, o número foi diminuindo, até chegar em junho, com fechamento de 19.579 vagas e ao número positivo de julho.
Esses números mais recentes apontam para um começo de recuperação. Além da criação de vagas em julho, o número de pedidos de seguro-desemprego em agosto teve queda de 21,3% na comparação com o mesmo período de 2019.
Em uma rede social, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), comemorou o resultado e afirmou que "é o Brasil voltando à normalidade".
Recuperação em 'V'
O ministro da Economia, Paulo Guedes, não costuma participar das coletivas mensais de divulgação do Caged, mas no primeiro resultado positivo desde o início da crise, ele decidiu falar no início da apresentação.
Guedes que o resultado do Caged indica uma recuperação econômica em forma de “V”, ou seja, uma queda profunda seguida por uma recuperação para o mesmo patamar. Ele disse que o Brasil está mostrando uma recuperação econômica em trajetória de "V da Nike". Chamado de "swoosh", o logotipo da marca esportiva tem a segunda perna mais deitada, sugerindo uma recuperação mais lenta do que a queda.
— O consumo de energia elétrica, a arrecadação de impostos, o padrão está sendo o mesmo. E agora, no que é o dado mais importante, que é a criação de empregos. Todos esses dados têm saído com o padrão semelhante. É um V. É um v da nike. A queda foi abrupta no início. A volta é um pouco mais lenta, mas é segura. Nós estamos bastante animados com isso — disse o ministro, que apareceu de surpresa no anúncio da do Caged.
Guedes também chamou atenção para o fato de que as admissões estão acima de um milhão de contratações:
— É um excelente sinal de que a economia pode efetivamente fazer um retorno em V, porque os diversos padrões, de energia elétrica, arrecadação, de geração de empregos, vendas, créditos, todos esses estão dando sinais de fortalecimento da economia brasileira.
O Caged não registrava mais de um milhão de admissões desde março, quando 1,4 milhão de pessoas foram contratadas. O número teve uma queda abrupta em abril, para 635.025 e passou a subir nos meses subsequentes até atingir o número de julho.
O ministro da Economia chamou o resultado do Caged de “notícia extraordinária” e mostra, segundo ele, que o país retomou o ritmo de criação de empregos na economia. Guedes citou uma queda do PIB de cerca de 4%, muito abaixo das previsões iniciais, na casa de 10%.
— Nós dissemos na época que é muito difícil que esses modelos de previsão funcionem, porque quando há momentos críticos como esse, os parâmetros ficam instáveis. Essas previsões para mim eram excessivas. As revisões estão agora confirmando que o PIB brasileiro pode cair 4%, pouco acima disso, praticamente a metade do que tinha sido previsto antes — disse Guedes.
O ministro confirmou também que o governo irá prorrogar pela segunda vez, por mais 60 dias, os prazos dos acordos de redução de salário e suspensão dos contratos de trabalho. A medida é baseada na medida provisória (MP) 936, editada em abril e que virou lei, para ajudar as empresas a atravessarem a crise na economia gerada pandemia do coronavírus. A medida é considerada fundamental para a manutenção de empregos durante o período da crise.
O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirmou que apesar da extensão do período do programa, o orçamento será o mesmo que já foi previsto.
— O programa continuará disponível provavelmente por mais dois meses com o mesmo orçamento inicial que fizemos para todo o programa, isso demonstra também a responsabilidade do governo do presidente Jair Bolsonaro para com as normas fiscais, orçamento público e teto de gastos.
Segundo Bianco, o resultado positivo do Caged confirma que as medidas do governo de enfrentamento aos efeitos da pandemia deram certo.
— Tomamos as medidas urgentes e medidas sólidas no sentido de proteger o emprego das pessoas e de dar tranquilidade para que todos pudessem passar por essa pandemia da maneira menos custosa possível.
Início de retomada
O secretário de Previdência e Trabalho também afirmou que o resultado positivo de julho é o início "de uma retomada muito feliz".
— Tudo indica que continue sendo positivo, e mais positivo ainda já que o mercado está reabrindo, as pessoas estão se recolocando, estamos vendo aquecimento em alguns setores.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, entende que o número de 131.010 vagas é muito positivo, mas ressalta que há também o peso do programa de manutenção de empregos do governo, que atingiu 10 milhões de pessoas.
— Diversas empresas fizeram compromisso com o governo no programa de manutenção do emprego que inviabiliza o desligamento, então temos que considerar isso também, mas é um número muito positivo, um número de recuperação, um número disseminado entre os setores
Indústria puxa o crescimento
O setor que mais criou vagas em julho foi a indústria, com 53.590 novos postos, seguido da construção, com 41.986 e do comércio, que registrou 28.383 vagas. Além disso, a agropecuária também criou 23.027. O único setor que perdeu vagas foi o de serviços, com 15.948 empregos a menos.
Sanchez explica que muitas áreas relevantes no setor de serviços dependem muito da mobilidade e por isso são mais afetadas pela pandemia.
— Isso fica mais evidente em viagens. Pensar que o transporte aéreo é um tipo de serviço, transporte de pessoas com veículos também é um tipo de serviço e mitigou muito. Também a hotelaria, tudo isso está tudo dentro de serviços e de fato foram muito atingidos.
Na comparação por regiões, todas elas registraram aumento no número de empregos formais, com destaque para o Sudeste, com 34.157 vagas e o Nordeste, com 22.664. O Sul, com 20.128, Centro-Oeste, com 14.084 e o Norte, com 13.297 completam a estatística.
Por estados, o Rio de Janeiro foi o que registrou o pior saldo, de 6.658 postos de trabalho a menos, seguido de Sergipe, com perda de 804 vagas e Amapá com menos 142. São paulo, com adição de 22.967 vagas e Minas Gerais, que registrou 15. 843 novos postos lideram.
Ano ainda ruim
Apesar dos números melhores no último mês, o impacto da pandemia no mercado de trabalho ainda é significativo em 2020. No acumulado de janeiro a junho, a perda de 1,1 milhão de vagas significa que este ano é o primeiro com saldo negativo na criação de vagas desde 2016. Em termos de comparação, naquele ano o país perdeu 623.520 vagas, um pouco mais da metade dos fechamentos de 2020.
Também no acumulado dos primeiros sete meses do ano, só a construção e a agropecuária, com 8.742 e 86.217 vagas, respectivamente, registraram criação de postos de trabalho com carteira assinada.
O setor de serviços foi o que mais sentiu o impacto da crise, com 536.492 fechamentos, seguido do comércio, com 435.405 e da indústria, que registrou 197.543 vagas perdidas neste período.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, disse que o que está começando a acontecer é uma retomada dos empregos que foram perdidos durante a crise. Segundo ele, quando o prazo do programa de manutenção de empregos do governo acabar, as demissões não devem subir, mas o ritmo das contratações vai ficar mais lento.
— O que a gente vai ter é uma geração menor de emprego. Vamos voltar ao padrão histórico a partir de outubro e com o fim do programa, a geração de emprego vai ser menor, porque a economia está fraca, mas já temos sinais de recuperação da economia em vários setores, como ovarejista e serviços.