Em meio à pandemia de covid-19, os consumidores brasileiros se dizem seletivos nas compras, e quase um terço se sente sobrecarregado financeiramente. Os dados são de um estudo da consultoria KPMG obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.
O levantamento, que trata sobre o perfil de consumo em vários países ao longo da pandemia, mostra que 48% dos brasileiros estão mais seletivos em todas as compras, e 20% interromperam qualquer compra que não seja essencial. Uma fatia de 15% dos consumidores brasileiros se disse tão pressionada financeiramente que está lutando para pagar ao menos as compras essenciais.
“A gente está tendo um novembro inteiro de promoções. Você vê promoções bastante agressivas. O varejo tem sido movido muito a desconto, promoção e cashback (programas de reembolso), justamente para tentar incentivar esse consumo do que seria esse material não essencial”, disse Fernando Gambôa, sócio-lider de consumo e varejo da KPMG no Brasil e América do Sul.
Em meio à crise provocada pela pandemia, 30% dos consumidores se sentem sobrecarregados financeiramente e 26% se declaram numa situação financeiramente delicada.
Entre os entrevistados pela KPMG, 13% tinham renda familiar acima de R$ 10 mil, 23% entre R$ 4.500 e R$ 10 mil, 22% entre R$ 3 mil e R$ 4.500, 19% entre R$ 2 mil e R$ 3 mil; 18% abaixo de R$ 1.999 e 5% não informaram a renda.
“Infelizmente, a nossa região vive intensamente momentos de instabilidade. Além da instabilidade política tremenda na maior parte dos países aqui de baixo (América do Sul), a gente tem uma instabilidade financeira. Então, esse público que a gente está falando nesse momento no Brasil são pessoas que estão sob estresse financeiro. Porque eles conhecem alguém que perdeu o emprego, ou eles têm risco de perder o emprego, tiveram diminuição da renda familiar. Todos esses componentes fazem com que esta população consuma aquilo que é essencial. Continua com a sua vida, mas está olhando para preço. Essa é uma conclusão da pesquisa que acho que está muito presente no varejo brasileiro”, apontou Gambôa.
O levantamento ouviu mais de 75 mil consumidores em 12 mercados em todo o mundo, de maio a setembro, para determinar como a evolução da covid-19 está afetando o perfil do consumo e de que forma isso afeta os varejistas.
Às vésperas da campanha de liquidações da Black Friday, os entrevistados apontam que os cuidados para impedir a disseminação da covid-19 nos estabelecimentos comerciais são fundamentais para um retorno às compras em lojas físicas: 63% das pessoas consideram importante que o tempo nas filas seja curto; 53% gostariam que fosse mantido o distanciamento social e disponibilizado também álcool em gel; 52% voltariam a comprar presencialmente em caso de preços baixos; e 48% esperam que atendentes e funcionários estejam com equipamento de proteção individual.
“O preço continua sendo um fator determinante de compra. Quando a gente vai olhar os principais fatores de compra, a segurança pessoal (em relação à covid-19) está como um dos três principais, mas, para a nossa região, o preço e o custo x benefício vão sendo muito importantes”, disse Gambôa.
Quanto às motivações para manter as compras pela internet, 52% afirmaram achar uma forma de consumo muito mais segura e 48% declararam que era mais rápida.