O Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, movimentou R$ 9,3 bilhões em um total de 12,2 milhões de transações em sua primeira semana de operação plena - até o último domingo, segundo a autoridade monetária.
“O BC considera que essa primeira semana de operação completa foi bastante positiva. Desde o primeiro dia o número de operações atingiu um patamar elevado e não houve grandes intercorrências com a entrada de milhões de usuários no sistema”, avaliou o chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central, Ângelo Duarte.
Ao todo, 735 instituições operam atualmente no Pix. O índice de disponibilidade do sistema do BC foi de 100% no período, embora algumas instituições tenham tido algum problemas pontuais em seus próprios sistemas.
“Houve um aumento contínuo do uso da plataforma ao longo da semana, com um ticket médio crescente, mostrando que as pessoas estão ganhando confiança no Pix. Houve uma esperada queda no sábado e domingo, mas à medida que o Pix for mais usado em pagamentos de estabelecimentos comerciais, devemos ver mais transações também durante os finais de semana”, acrescentou Duarte.
Embora seja só o início do uso da nova ferramenta, os bancos brasileiros já preparam uma série de produtos como, por exemplo, crédito, em uma ofensiva para rechear a plataforma e compensar a queda de receitas que virá a reboque da nova forma de transferir dinheiro no Brasil, a qualquer hora do dia ou da noite, sete dias por semana.
Na mira dos bancos - e também de fintechs -, está um contingente de mais de 36,635 milhões de usuários já registrados no Pix, segundo dados do BC. Do total, 34,474 milhões são pessoas físicas já usando o Pix e 2,160 milhões, pessoas jurídicas. Somado, esse público tem em mãos mais de 83,490 milhões de chaves cadastradas, que permitem o pagamento por meio da nova tecnologia.
Para o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, a primeira semana do Pix foi bem-sucedida. "Tivemos um volume bem expressivo, e que demonstra a boa adesão dos brasileiros ao novo sistema de pagamento instantâneo", afirma, em nota ao Estadão/Broadcast.
Se o Pix ainda é visto como uma ameaça por uns ou tem o potencial negado para outros, o fato é que o novo sistema realmente caiu no gosto da população brasileira. Nos estabelecimentos, a oferta de pagamentos agora é acompanhada de uma tríade: vai pagar com débito, crédito ou Pix ?
"O Pix reabriu uma janela de consumo (para os bancos). Não é que não existia antes, mas agora está muito mais presente, no quiosque, na loja, em uma transferência de dinheiro. É uma mega oportunidade que esse novo meio pagamento colocou na mesa", avalia o diretor de varejo do Santander Brasil, Marcelo Labuto, que prevê queda de receitas "marginal" como consequência do Pix.
Diante disso, os bancos começaram a pendurar uma série de produtos e funcionalidades atreladas ao novo sistema de pagamentos. Dentre as novidades, já ofertam pagamentos de boletos com o Pix, cartão e, até mesmo, empréstimos.
O Bradesco saiu na frente neste quesito. O banco foi o primeiro a anunciar a oferta de crédito a pessoas físicas no Pix, ainda na fase de testes do sistema. Esse é, conforme o vice-presidente do banco, Eurico Fabri, o primeiro de uma 'esteira de produtos' que serão lançados nos próximos meses.
Para o início de 2021, o Bradesco espera disponibilizar ainda crédito para pessoas físicas por meio do QR Code, os famosos quadradinhos lidos pela câmera do smartphone, e também empréstimos a pessoas jurídicas por meio da chave do Pix. "Vai certamente trazer um volume adicional de crédito. O Pix proporcionará uma formalização de dinheiro que hoje circula em papel moeda e que passará para o digital, atingindo camadas que estão fora do sistema e que precisam de crédito", diz Fabri, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Estratégias
Além do Bradesco, os rivais Santander Brasil e Itaú Unibanco também preparam ofensivas em crédito no Pix. Entre os digitais, o Original, da holding J&F, já prevê lançar a oferta de empréstimos atrelada a transações no Pix. O foco é o mesmo: reter o cliente com mais produtos e compensar uma eventual perda de receitas.
De acordo com o diretor-executivo de TI, Produtos, Open Banking e Operações do Banco Original, Raul Moreira, a ideia é lançar em fevereiro o acesso ao crédito para transações originadas pelo Pix. "Outra ação é o incentivo ao uso do ix junto aos empreendedores", diz, acrescentando que, no comércio, será mais fácil a implantação do Pix no segmento de microempreendedores.
As pessoas jurídicas já estão se rendendo ao Pix, conforme o presidente da Febraban, em um movimento já era esperado pelo mercado financeiro diante da inovação, conveniência e facilidade de uso da nova ferramenta, que promete revolucionar a forma de pagar no Brasil. Das mais de 83,490 milhões de chaves registradas no Pix até o momento, 79.811.850 são de pessoas físicas e 3.678.268 de jurídicas.
Para o especialista em meios de pagamentos Edson Santos, da consultoria CO.Link, a estratégia dos grandes bancos, de agregar novos produtos no Pix, faz todo sentido. Ainda é muito cedo, porém, para saber o resultado, de acordo com ele. "Banco e bandeiras [de cartão] parecem estar muito preocupados com o Pix, que deve ser uma ameaça", afirma Santos, lembrando que há ainda aqueles na fase de negação, dizendo que o Pix não irá pegar, que há problemas de segurança, por exemplo.
O sócio do escritório Mattos Filho e especialista em tecnologia, Thiago Luís Sombra, também considera o contra-ataque dos bancos positivo uma vez que é uma forma dos incumbentes do mercado atenuarem a queda de receitas que o Pix vai acarretar enquanto que, no caso das fintechs, o sistema será um multiplicador de ganhos. Ele lembra que as instituições financeiras têm à disposição as informações do cliente, o score de crédito, que também pode ser identificado por meio dos dados do Pix.